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 Pesquisador da história do Google lança livro com críticas sobre a empresa 
"O Google diz que somos consumidores, mas a verdade é que os usuários são o produto que eles vendem como propaganda" | 
Poucas
 empresas no setor de tecnologia são tão benquistas quanto o Google, 
seja por seus serviços — buscas, navegadores, sistemas para celular, 
entre outros — quanto pela posição da empresa, conhecida por seu slogan 
“não seja mau”. Entretanto, a gigante tem seus críticos, e poucos são 
tão contundentes quanto o norte-americano Scott Cleland, especialista 
antitruste que já testemunhou três vezes no Congresso norte-americano 
sobre privacidade e práticas anticoncorrenciais na internet. Nascido em 
Michigan e defensor de direitos de privacidade e propriedade, Cleland 
visitou o Brasil — e Brasília — pela primeira vez, no início do mês, 
como parte do lançamento de seu livro Busque e destrua — por que você 
não pode confiar no Google Inc. (Matrix Editora, 348 páginas), em que 
ele destaca práticas da gigante de buscas que afetam a privacidade de 
usuários, derespeitam leis e governos — e como eles conseguem esconder 
isso do público.
Existem várias empresas envolvidas em questões antiéticas no setor de tecnologia. Porque o senhor prioriza o Google?
Há
 algumas razões. A primeira: o Google é único. Não há outra empresa no 
mundo com a missão de organizar toda a informação do mundo, e torná-la 
acessível e útil. Não dá para ser mais ambicioso do que isso. Essa 
missão os coloca em tudo: o monopólio da Microsoft, por exemplo, foi 
apenas em softwares para PC. Isso não afetou a Apple ou a Oracle. O 
Google permite que eles estejam em qualquer mercado que seja on-line — e
 eles estão. A outra razão é: me pediram para testemunhar no senado 
norte-americano, na época em que o Google queria comprar a DoubleClick 
(a transação foi concluída em 2007, por US$ 3 bilhões). Essa era a única
 empresa no mundo que tinha o mesmo alcance em publicidade on-line que a
 gigante. Quando me opus à aquisição, eu era o único analista que via um
 problema nisso. Eu os avisei, se a compra fosse concluída, o governo 
daria a eles um monopólio. Juntas, as duas teriam uma fatia de mercado 
maior que a de todos os concorrentes. No mundo dos negócios, o mais 
difícil é conseguir clientes. Você não sabe como é difícil: é preciso 
cortejá-los, negociar. O Google simplesmente os comprou.
Qual a diferença entre o Google e as outras empresas?
Quando
 testemunhei, eles me perguntaram sobre outras empresas, como Microsoft,
 Yahoo! e Facebook. O Bing, serviço de buscas da MS, é só parte do 
negócio deles. A pesquisa também nunca foi o principal negócio do Yahoo!
 — eles saíram, voltaram, e se tornaram uma empresa de mídia. Naquela 
época, o Facebook nem era tão conhecido. O Google prevaleceu sobre todos
 os concorrentes quando descobriu que a publicidade em buscas e em 
anúncios eram o mesmo negócio. São os mesmos usuários, os mesmos 
clientes e o mesmo conteúdo. Quando aprovaram a compra, sabia que o 
Google seria um grande problema. Nunca tivemos um monopólio que fosse 
global e em todos os mercados. Eu sabia das ambições deles, e sabia que 
eles eram antiéticos. Conhecia o modo como eles se comportavam há cinco,
 seis anos e que eles continuariam assim.
