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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Idosos aproveitam tempo e dinheiro para viajar e conhecer o mundo



Sem compromissos financeiros com filhos e netos, Marco Antônio e Marilene de Araújo já visitaram as principais cidades do planeta (Iano Andrade/CB/D.A Press - 16/12/11)
Sem compromissos financeiros com filhos e netos, Marco Antônio e Marilene de Araújo já visitaram as principais cidades do planeta
 
O casal de aposentados Marco Antônio, 77 anos, e Marilene Martins de Araújo, 71, está realizando um sonho. Depois de trabalhar por mais de três décadas, criar e formar quatro filhos e ver os 13 netos nascerem, os dois finalmente podem concretizar o desejo de conhecer o mundo. Sem compromissos financeiros com a família, Marco e Marilene poupam R$ 1,6 mil por mês para investir em pacotes de viagens. Eles fazem as malas pelo menos quatro vezes por ano e se dedicam a roteiros pelo Brasil e pelo exterior. Com dinheiro no bolso e tempo livre, integram o contingente de idosos que, na falta de mensalidades escolares para pagar ou amigos que dependam deles, colocam o pé na estrada e aquecem o setor de turismo, conforme mostra o terceiro capítulo da série sobre sua força econômica. 
Dados do Ministério do Turismo mostram que mais da metade dos brasileiros com idade acima de 60 anos viaja de uma a duas vezes por ano. Outros 16,8% embarcam em três ocasiões anuais. Pelo estudo, 46% dos que integram a terceira idade preferem sair de casa na baixa temporada e 34,5%, em qualquer época. Com tanto apetite pelo consumo, eles estão movimentando a hotelaria e os restaurantes: 76% se hospedam em hotéis ou pousadas durante as viagens. Apenas 20% ficam em casas de amigos ou de parentes.

O Nordeste é a região brasileira mais procurada, com 50,1% das preferências. Depois dela, destacam-se o Sul (26,7%), o Norte (7,8%), o Sudeste (7,8%) e o Centro-Oeste (7,6%). Entre as cidades, Natal (RN) é o destino predileto, na frente de Fortaleza (CE) e de Caldas Novas (GO). “O fato é que a terceira idade está preenchendo uma grande lacuna no segmento de viagens. Na baixa temporada, quando a procura por pacotes turísticos cai, eles aproveitam as promoções e vão para vários lugares”, afirma Carlos Vieira, vice-presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens do Distrito Federal (Abav-DF).

Marco e Marilene já passeavam muito pelo Brasil. Há 10 anos, ganharam de um filho uma viagem para a Espanha, a primeira internacional. Desde então, o álbum tem ficado cada vez mais extenso e variado. Apenas em 2011, eles foram para Londres, Paris, duas vezes para São Paulo e uma para Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, para comemorar as bodas de ouro. Mas a lista já inclui também cidades como Buenos Aires, Nova York, Roma, Madri e Lisboa. Neste ano, os planos estão fechados: querem conhecer Viena, Praga e Amsterdã, além de fazer novos percursos pelo Brasil. “Sempre sonhamos em nos aposentar e viajar. Antes, não tínhamos tempo nem dinheiro”, comenta Marilene.

O envelhecimento acelerado da população está transformando a parcela de idosos em um público disputadíssimo pelas agências de viagens. Não à toa, muitas empresas já viram nesse segmento um nicho rentável a ser explorado e não só passaram a oferecer pacotes específicos para quem tem mais de 60 anos como também se dedicaram exclusivamente a atender essa demanda.

Há 20 anos, a empresária Sônia Regina de Oliveira criou a Viver Bem Turismo, que organiza pacotes apenas para quem tem mais de 60 anos. Com a mudança da pirâmide demográfica do país, os negócios estão despontando. Há cinco anos, ela fechava um pacote por mês, com uma média de 50 pessoas. Hoje, o número saltou para três. Sônia explica que os mais velhos, ao procurar um passeio, buscam segurança e atenção. “O meu público gosta de comprar. Ele pede sempre que eu inclua no roteiro lugares onde há muitas lojas”, observa.

Na CVC, a terceira idade responde por 20% do volume de passageiros. Por ano, a companhia embarca uma média de 100 mil pessoas com mais de 60 anos, em viagens nacionais e internacionais. Os destinos mais vendidos são cruzeiros pelo litoral brasileiro e pelo exterior e roteiros aéreos para o Nordeste como um todo. No que diz respeito às viagens internacionais, a Europa é um dos locais mais procurados, assim como a América do Sul, os Estados Unidos e a região do Caribe. Segundo os dados da CVC, ao contrário do senso comum, os idosos de hoje têm predileção por viagens mais agitadas, para localidades que ofereçam atrações durante o dia e a noite e que possam ser curtidas com toda a família.

Conta própria

A impressão da empresa, no entanto, não é compartilhada por todos. Nos primeiros roteiros que fizeram, Marco e Marilene fecharam pacotes com agências de turismo. Mas, agora, organizam tudo por conta própria. “O problema é que o guia geralmente vai com pressa, na frente, e a gente fica para trás. Sempre levamos alguém conosco, um filho ou um amigo”, conta a aposentada.

A tranquilidade no apartamento do casal, na Asa Sul, nada informa dos desafios já superados na vida. Por causa da Síndrome de Parkinson, Marilene tem o caminhar e a fala mais lentos. Em busca de qualidade de vida, o casal frequenta a academia pelo menos três vezes por semana, vai ao cinema, almoça fora aos domingos e está sempre com a família. Marco tem apego especial ao computador e às redes sociais, inclusive para conversar com um neto que mora em Londres. Marilene lê, cozinha, costura, faz crochê e borda. 
Mas nada disso é suficiente. “Cada viagem traz uma bagagem de cultura e conhecimento única”, afirma ela. Marilene observa que as escalas, as conexões e as distâncias que os dois têm de percorrer dentro dos próprios aeroportos cansam. Mesmo assim, não falta ânimo para conhecer novos lugares. “Às vezes, pedimos cadeiras especiais no avião e para andar nos terminais. Apesar disso, viajar vale a pena demais”, relata.

Transporte inadequado

Além do problema das distâncias que os idosos, às vezes, precisam vencer para chegar ao lugar dos sonhos, Carlos Vieira, vice-presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens do Distrito Federal (Abav-DF), ressalta que o transporte rodoviário brasileiro não é preparado para receber a terceira idade. “Os ônibus têm melhorado gradativamente, mas ainda não são adaptados a esse público. É um passo que precisa ser dado”, destaca. Por isso, 46% dos idosos preferem viajar de avião, enquanto 35% ficam com os ônibus, segundo o levantamento do Ministério do Turismo. 

''O fato é que a terceira idade está preenchendo uma grande lacuna no segmento de viagens. Na baixa temporada, quando a procura por pacotes turísticos cai, eles aproveitam as promoções e vão para vários lugares''
Carlos Vieira, 
vice-presidente da Abav-DF
Fonte:Cristiane Bonfanti - C B