© Colagem: Voz da Rússia
Laszlo Csizsik-Csatary e Mikhail Gorshkov fazem parte do número considerável de ex-nazistas, já falecidos e vivos e seus auxiliares colaboracionistas que conseguiram evitar a punição até à velhice avançada. A maioria deles encontrou asilo confortável e hospitaleiro na Europa, que, como se sabe, sofreu muito em consequência da Segunda Guerra Mundial, desencadeada pela Alemanha nazista em 1939.
Nos anos da guerra entre os colaboracionistas de diferentes nacionalidades havia não menos pessoas cruéis do que nas fileiras SS. Por exemplo, o falecido Csizsik-Csatary acima citado foi condenado in absentia, ainda pelo tribunal da Tchecoslováquia, à pena de morte por envolvimento na morte de quase dezasseis mil judeus. Durante a guerra, Csizsik foi chefe da guarda do gueto na cidade de Kosice, no território da Eslováquia. Por exigência de Bratislava, no ano passado ele foi detido pela polícia em Budapeste, entretanto não foi entregue à Eslováquia. O tribunal húngaro levou em consideração a idade avançada do criminoso e “prescreveu-lhe” prisão domiciliar, sob a qual Laslo Csizsik quase atingiu o centenário.
O “colega” de Csizsik, Mikhail Gorshkov, é suspeito de participação ativa na eliminação de três mil judeus no território da Bielorrússia. Os EUA, onde Gorshkov viveu até 2002, privaram-no da cidadania por ocultar o passado. Em compensação, as autoridades estonianas deram-lhe refúgio. A promotoria da Estônia arquivou há dois anos o processo deste carrasco, supostamente por falta de testemunhas e provas de seus crimes, apesar de a Rússia e Bielorrússia disporem de todas as provas necessárias. O problema é que casos semelhantes ao caso Gorshkov são muitos.
Segundo diferentes dados, nos anos da Segunda Guerra Mundial o número de cúmplices involuntários e voluntários dos nazistas, somente na União Soviética foi de cerca de um milhão e meio de pessoas. É claro que só o tribunal pode afirmar que estas pessoas são criminosas ou inocentes, considera o doutor em ciências jurídicas, professor Lev Simkin. Nos tempos da URSS, as autoridades soviéticas pediram a vários governos de países ocidentais a entrega de criminosos de guerra, via de regra, exclusivamente em casos conhecidos, quando se tratava de assassinatos em massa. Mas, mesmo tendo em mãos provas da crueldades deste ou de outro criminoso de guerra, os europeus procuravam não entregar os antigos colaboracionistas.
Em muito, isto era explicado com a ausência de acordos de extradição entre a URSS e os países europeus. Mas existiam também outras causas, como refere Lev Simkin:
“Houve muitos pedidos de extradição à Grã-Bretanha, entretanto a Grã-Bretanha em todos os casos recusou, apesar das sérias provas de que estas pessoas cometeram crimes de guerra. Havia a Guerra Fria e considerava-se que, se essas pessoas fossem julgadas na União Soviética, não haveria garantias de que o processo seria justo, do ponto de vista britânico.”
Semelhante tática mantinham também os governos de outros países europeus. Entretanto, assinala Lev Simkin, no fim dos anos 1980, à medida em que as relações entre a URSS e o Ocidente melhoravam, a opinião pública europeia e a imprensa começaram a se pronunciar pela revisão dos enfoques da justiça europeia em relação aos criminosos de guerra escondidos. Em 1988, Londres recebeu de Moscou quase uma centena de materiais sobre criminosos de guerra. Naquela época na Scotland Yard foi formada uma seção que se dedicava à perseguição penal de ex-colaboracionistas – os britânicos, como antes, não queriam entregar os carrascos nazistas a Moscou, decidindo puni-los em casa independentemente. Depois de uma esgotante e longa investigação da execução de dois mil e setecentos habitantes de um gueto em 1942 na cidade de Damachava (região de Brest na Bielorrússia) o tribunal britânico, pela participação neste crime, condenou um dos carrascos, Andrei Savonyuk, a duas penas de prisão perpétua. A pena começou a ser cumprida em 1999 e, seis anos depois, Savonyuk morreu de velhice na prisão inglesa de Norridge.
Mas este, segundo Lev Simkin, é um caso excecional. A maioria esmagadora das pessoas que cometeu crimes de guerra no território da URSS e foi para o Ocidente ficou impune. Além disso, o sistema judicial ocidental é muito complexo, lembra o professor. Não se pode julgar uma pessoa simplesmente por ter trabalhado para os alemães nos anos da guerra. Para chamar alguém à responsabilidade penal são necessárias provas muito sérias dos crimes cometidos pelos suspeitos. Via de regra, quase não restam testemunhas vivas, todas as vítimas morreram há muito tempo.
Naturalmente que até mesmo em relação aos criminosos de guerra nazistas deve ser realizada uma investigação rigorosa, considera o advogado Gennadi Shilo. Mas, em qualquer caso, os processos penais dos nazistas não têm prazo de prescrição, salientou ele em entrevista à Voz da Rússia.
O atual diretor do centro Simon Wiesenthal, Efraim Zuroff, disse certa vez que não se lembra de nenhum caso em que criminosos de guerra revelassem remorsos. Hoje, a lista do centro, que inclui os carrascos nazistas mais sanguinários, tem onze nomes.
Da Voz da Rússia
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