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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Grupo lança um calendário que ajuda a desmistificar a síndrome de Down

Henrique parece abraçar com o olhar. Carinhoso, não economiza risadas e simpatia. Miguel também oferece sorrisos fáceis e afagos a quem se aproximar. Os dois têm em comum mais do que os olhos amendoados, os cabelos lisos e o jeito amável. Nasceram com síndrome de Down (veja Para saber mais). Os meninos estão entre as estrelas do calendário lançado no último sábado em Brasília e em outras cidades do país pelo grupo Happy Down.

Cada unidade será vendida a R$ 15. O lucro é destinado à Associação de Voluntárias do Hospital Infantil Darcy Vargas, em São Paulo. A unidade de saúde cuida de crianças com Down. O Happy Down é formado por pessoas com a síndrome e seus familiares. Na internet, eles trocam informações e compartilham experiências. Há 750 cadastrados. A relação entre os participantes extrapola os limites do computador.

Os integrantes se encontram pessoalmente e falam ao telefone, quando necessário. Tudo para oferecer uma rede de apoio a pais de todo o Brasil que precisam aprender a conviver com a síndrome de Down. A ideia de lançar um calendário nasceu em 2006, dois anos depois da criação do grupo. Inicialmente, o plano era presentear as famílias. O calendário tornou-se popular. Empresas compraram grandes quantidades para oferecer como brindes.

Miguel e Henrique foram selecionados, em Brasília, para representar o trabalho empreendido pelo grupo (Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press)
Miguel e Henrique foram selecionados, em Brasília, para representar o trabalho empreendido pelo grupo


As idealizadoras do Happy Down, Andréa Barbi e Audrey Bosio, moradoras de São Paulo, planejam incrementar ainda mais o projeto. “O objetivo é desmistificar a síndrome de Down, mostrar que essas são crianças e jovens comuns, com limitações, como todo mundo. Só precisam de respeito e oportunidade. Não queremos dó nem caridade”, explicou Andréa.

As amigas entraram em contato com artistas, em busca de apoio. “Eles são formadores de opinião, mobilizam a sociedade”, explicou Andréa, mãe de Nathália, 8 anos. Audrey é mãe de Isabella Bosio, da mesma idade. “Eu e Audrey nos conhecemos quando nossas filhas nasceram. Nos juntamos para lutar por visibilidade para essa questão e pela quebra do preconceito. Por isso criamos o grupo de discussão Happy Down”, lembrou Andréa.

Em 2010, cantores famosos abraçaram a ideia. Posaram para foto, ao lado dos meninos e das meninas. Venderam 600 calendários, somente em São Paulo, na noite de lançamento. Este ano, apresentadores de programas de televisão emprestaram sua imagem à causa da inclusão social. Pela primeira vez, Brasília foi incluída entre as escolhidas para receber o lançamento. Mais de 100 crianças participaram das sessões de foto. Dessas, 24 foram sorteadas. Dois brasilienses, Miguel Gadelha, 3 anos, e Henrique Teodoro di Mambro, 2 anos e 5 meses, são os representantes da capital do país no projeto.

Engajamento
As mães dos garotos não economizaram esforços para apoiar a ideia. Custearam a ida a São Paulo para a sessão de fotos. “Nos avisaram um dia antes, mas fiz questão de participar. É muito importante mostrar à sociedade que essas crianças são felizes, que podem levar uma vida normal, crescer, casar, trabalhar”, disse a publicitária Giuliana di Mambro, 33 anos, mãe de Henrique. Ela é uma das integrantes do Happy Down.

Giuliana procurou apoio depois de receber a notícia de que o filho havia nascido com Down. “O médico me disse logo após a cesariana. Eu ainda estava em operação. Não foi nada sutil. Primeiro, veio o impacto da notícia. Eu não sabia nada a respeito da síndrome de Down, a não ser as noções básicas que vemos em genética, na escola.” A participação nesse e em outros grupos de ajuda foi essencial para aprender a conviver com as necessidades de Henrique. Hoje, o menino é a alegria da família. Dança, canta e distribui beijos, o tempo todo.

Miguel chegou à casa dos Gadelhas por meio da adoção. Fabiana Gadelha, 34 anos, gestora de projetos sociais, desejava um novo filho quando o conheceu. Já era mãe de Valentina e podia ter outros filhos biológicos. Ainda assim, via a adoção como opção principal. “Eu soube da existência do Miguel por uma outra mãe, que tinha uma filha com Down. A adoção é uma forma de maternidade. Então, decidi trazê-lo para a nossa vida.” Há 400 calendários à venda na livraria Cultura, com fotos de Miguel e Henrique, além de outras crianças.

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