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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011


No primeiro ano, Dilma optou por ministros que fizessem a máquina funcionar
O primeiro ano de gestão de Dilma Rousseff mostrou uma configuração de poder na Esplanada dos Ministérios diferente da realidade de 2003, data em que Luiz Inácio Lula da Silva assumiu pela primeira vez a Presidência da República. Quando anunciou seus ministros durante a transição, a grande surpresa foi a ausência de nomes expressivos na equipe. Passados 12 meses, verificou-se que é uma estratégia de gestora. Dilma não quer grandes atores em ação, prefere que as peças funcionem. Com isso, se forem necessárias mudanças, ela poderá mexer as cadeiras livremente sem ferir egos de estrelas políticas e partidárias.

A única exceção a essa regra era Antonio Palocci, considerado no início do ano o superministro da Casa Civil. Mesmo assim, Palocci foi o primeiro dos sete ministros a cair sob a acusação de enriquecimento ilícito. Mesmo superdimensionado, jamais chegou a ter o mesmo prestígio e poder que José Dirceu gozava, no mesmo cargo, até ser abatido pelo escândalo do mensalão. Para completar, a dobradinha Lula-Dirceu era distinta da relação Dilma-Palocci. “Dirceu tem um peso partidário que Palocci não tem. Ele foi fundamental na vitória do PT em 2002. No caso de Dilma, Palocci ajudou na montagem do governo e na condução da campanha, mas o grande articulador político da presidente é o Lula, ninguém mais”, disse ao Correio um auxiliar da presidente.

Silenciosamente, Dilma também promoveu alterações de funções em outras áreas. O Ministério do Planejamento ganhou musculatura para, de fato, planejar o país. Depois de oito anos praticamente reduzida a administrar a relação com o funcionalismo público, a pasta ganhou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e autonomia para promover mudanças mais profundas na estrutura da máquina, em parceria com a Câmara de Gestão, Desempenho e Competitividade. Para conduzir o processo, Dilma escalou Miriam Belchior, com quem trabalhou na Casa Civil entre 2005 e 2011.

Dilma também vitaminou o Ministério do Desenvolvimento Social, colocou uma técnica da Unicamp — Tereza Campello, outra que atuou na Casa Civil — e lançou o programa de erradicação da miséria extrema, com o audacioso objetivo de tirar 16 milhões de pessoas da pobreza absoluta. Não limitou-se apenas a administrar o Bolsa Família, programa que assegurou a reeleição de Lula em 2006.

Restos a pagar

A presidente também corrigiu um defeito que cometera no início de seu mandato. Confiante na habilidade política de Palocci, ela nomeou um petista discreto e insípido para a Secretaria de Relações Institucionais. Luiz Sérgio não resistiu às pressões do cargo e acabou substituído por Ideli Salvatti. Com um perfil trator herdado dos tempos em que era senadora, a ministra catarinense colecionou vitórias para o Planalto no Congresso, convenceu Dilma a prorrogar de junho até setembro os restos a pagar e inverteu a articulação do Planalto com o Senado, antes restrita à ação dos senadores peemedebistas. Tanto que na votação da Desvinculação de Recursos da União (DRU), Ideli acompanhou os desdobramento do gabinete do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

Mas o primeiro ano também apontou o declínio de algumas pastas. Apesar de não ter perdido qualquer uma de suas funções, o Ministério da Justiça atual é uma pálida referência quando comparado aos primeiros anos do governo Lula. Além de uma Polícia Federal mais ativa no período de 2003 a 2006, o então titular Márcio Thomaz Bastos exercia um papel de aconselhamento político ao presidente, algo inimaginável nos dias atuais, mesmo José Eduardo Cardozo tendo sido um dos “três porquinhos” que conduziram a campanha presidencial de Dilma Rousseff.
Fonte: Paulo de Tarso Lyra - Correio Braziliense