Selic nem sempre ajuda no combate à inflação, afirmam economistas Consenso é de que o aumento no valor do financiamento provocaria a queda no consumo
Basta que os índices de inflação comecem a subir e a pressão para que o Copom (Comitê de Política Monetária) eleve a taxa básica de juros se inicia. Nesta semana, o comitê optou por manter a Selic nos atuais níveis históricos de 7,25%, embora o IPCA (Índice de Preços aos Consumidor Amplo), medido pelo IBGE, tenha registrado alta de 0,6% e a inflação acumulada para os últimos doze meses, que é de 6,31%, está muito perto do teto da meta.
O consenso é de que, aumentando o custo dos financiamentos, há uma queda no consumo e consequentemente, com a demanda menos elevada, os preços dentro da economia diminuem. Porém, especialistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), argumentam que outros motivos contribuem para o aumento da inflação e que, nem sempre, elevar a taxa de juros é uma solução.
"Quando se eleva a taxa de juros, você combate a inflação que vem por este aumento da demanda. Porém, a inflação no Brasil, atualmente, resulta de uma alteração estrutural da distribuição de renda em direção ao setor de serviços (inclusive com salários melhores) e ou de pressões localizadas de custos. Não resulta deste excesso de demanda", explica o economista Pedro Paulo Bastos, professor da universidade.
Para Fernando Sarti, diretor do Instituto de Economia (IE), a forma com que a baixa taxa de juros vem influenciando os preços acontece, na verdade, através do câmbio: quando a Selic aumenta, investidores internacionais de curto prazo, procurando lucrar com a diferença de juros entre os países, chegam com grandes quantidades de dólares, desvalorizando o dólar. Com a divisa mais barata, o preço dos importados caem. Porém, este efeito trás grandes malefícios para a indústria nacional.
"Toda vez que o real se valoriza, facilita muito as importações, você barateia também o produto nacional, favorecendo as importações em detrimento dos produtos nacionais, que se tornam relativamente mais caros, perdem mercado e acabam afetando a nossa indústria fortemente", analisa.
Os economistas acreditam que para combater a elevação dos preços na economia é preciso aumentar a oferta de serviços e incrementar os níveis de investimento do país, que vêm decaindo ano após ano. "A reação para diminuir os preços deve envolver a ampliação da oferta por meio do investimento e não por meio da elevação da Selic", analisa Bastos.
A questão que fica então é: se a inflação no Brasil nem sempre pode ser combatida pelo aumento na taxa de juros, porque a pressão para que o Copom eleve a Selic? "Economistas que defendem a elevação da Selic mesmo quando a inflação não é de demanda, mas de custos, defendem o interesse quem perde lucro com os juros menor", afirma Bastos, em concordância com Sarti.
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