Pesquisar o SITE

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

O caso dos mais de 303 mil reais recebidos em um único mês pela procuradora Rita Nolasco


 O caso dos mais de 303 mil reais recebidos em um único mês pela procuradora Rita Nolasco reacendeu um debate que nunca deixou de assombrar o país: o abismo entre o Brasil real e o Brasil dos altos salários estatais. O valor, registrado no Portal da Transparência, foi pago como honorários de sucumbência, uma verba legal e prevista em lei, mas que causa indignação pelo tamanho e pela desigualdade gritante que expõe. Quando um servidor público recebe, em apenas trinta dias, o equivalente a anos de salário de um trabalhador comum, o país naturalmente reage — e com razão.


O desconforto aumenta por outro motivo óbvio: Rita é namorada do Luís Roberto Barroso. Não há ilegalidade nisso, nem insinuação de irregularidade no pagamento — mas, em política e em instituições públicas, a percepção importa. E a percepção que ficou é devastadora. Em um momento em que milhões de brasileiros lutam para pagar contas, manter negócios vivos e sobreviver à carga tributária pesada, a imagem de um pagamento tão alto num órgão estatal cai como gasolina em um ambiente já inflamado de desconfiança.


O episódio também revela um problema crônico: a completa desconexão entre a elite estatal e o cidadão comum. Honorários milionários podem ser legais, mas são moralmente aceitáveis num país onde professores, enfermeiros e trabalhadores recebem salários quase simbólicos? Até que ponto o Estado brasileiro pode continuar funcionando como uma máquina de privilégios enquanto o país real afunda em dívidas, inadimplência recorde e serviços precários?


A polêmica se espalhou como um rastilho de pólvora porque não é sobre uma pessoa — é sobre um sistema inteiro. Um sistema que premia poucos, custa caro a muitos e ainda exige que o cidadão acredite que tudo isso faz sentido. A revelação dos valores não provoca revolta por acaso: ela expõe a distância entre uma elite protegida e a população que paga a conta.


No fim, a pergunta que ecoa é simples: o Brasil existe para servir ao cidadão ou o cidadão existe para sustentar o Brasil oficial? Quando um pagamento público de 303 mil reais em um único mês parece normal dentro das estruturas do Estado, está claro que algo muito profundo — e muito errado — precisa ser revisto.

Redação 

Por Lívio Araújo,jornalista 

Nenhum comentário:

Postar um comentário