Síria: Assad diz que poderia deixar presidência, mas não em meio à guerra
Presidente afirma que respeitará as resoluções da ONU sobre o arsenal de armas químicas do país
O presidente sírio Bashar al-Assad declarou neste domingo que seu país acatará a resolução das Nações Unidas sobre armas químicas adotadas na sexta-feira pela ONU, segundo a agência oficial Sana. Ele também afirmou que poderá deixar a presidência se isso for melhor para o país, mas negou a possibilidade de tomar essa decisão em meio à guerra civil.
"Claro, vamos respeitá-la (a resolução) e nossa história demonstra que sempre respeitamos nossa assinatura em todos os tratados que firmamos", declarou Assad a um jornalista da rede italiana Rai 24. Ele assegurou ainda que seu país "garantirá, com toda a certeza, ajuda e proteção" aos especialistas da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), que devem chegar a Damasco na terça-feira.
Assad afirmou que deixaria a chefia de Estado se isso contribuísse para melhorar a situação no país, mas disse não pensar em fazê-lo no meio do atual conflito armado. "Se abandonar meu cargo contribuísse para melhorar a situação, não teria nenhum escrúpulo, mas agora devo seguir em meu posto", disse Assad.
"No meio de uma tempestade não se abandona o navio; minha missão é levá-lo ao porto, não abandoná-lo", argumentou Assad na primeira entrevista concedida a um veículo estrangeiro após a resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre o desmantelamento do arsenal químico da Síria.
Irã
Assad também considerou que a reaproximação entre Estados Unidos e Irã é positiva para seu país. "Se os americanos forem sinceros em sua aproximação com o Irã, os resultados serão positivos no que diz respeito à crise síria e todas as crises na região", disse Assad. "Os iranianos, como os sírios, não confiam nos americanos (...) mas os iranianos não agem com rancor em sua reaproximação. É um passo bem estudado que se baseia na experiência dos iranianos com os Estados Unidos desde a revolução iraniana de 1979", ressaltou.
Rohani, que esteve sob os holofotes em Nova York onde participou da Assembleia Geral da ONU, conversou por telefone com o presidente americano pouco antes de partir para Teerã na sexta-feira.
Europa não é capaz de conduzir negociações
Em contrapartida, Assad disse que a Europa não tem a capacidade necessária para desemprenhar um papel-chave nas negociações de paz sobre a Síria. "Sinceramente, a maioria dos países europeus não tem a capacidade de desemprenhar um papel na Genebra II (conferência de paz sobre a Síria), já que não possui o que se necessita para ter sucesso nesse papel", afirmou.
"Eles adotaram a política americana em suas relações com diferentes países (da região) desde a presidência de George Bush. Como poderiam desempenhar um papel sem falta a eles credibilidade", questionou. "Como podem falar de ajuda humanitária, enquanto a Europa impõe o pior embargo à Síria desde a sua dependência em 1946", insistiu.
Oposição
Quanto a oposição, Assad ressaltou que para ele, "os homens armados são terroristas". "Não importa qual partido político participe da conferência de Genebra, mas não podemos, por exemplo, conversar com organizações ligadas à Al-Qaeda ou com terroristas. Não podemos negociar com pessoas que pedem uma intervenção militar na Síria", declarou, em referência à Coalizão Nacional de oposição síria.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou na noite de sexta-feira, por unanimidade, uma resolução que prevê a destruição do arsenal químico do regime sírio de Bashar al-Assad. Essa é a primeira resolução adotada pelo máximo órgão da ONU sobre a Síria desde o início do conflito naquele país, em março de 2011, após os vetos de Rússia e China a três projetos precedentes. A resolução do Conselho de Segurança foi aprovada por seus 15 membros, entre eles os cinco permanentes com direito a veto: Estados Unidos, Rússia, China, França e Grã-Bretanha.
Quase de forma simultânea, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, anunciou uma nova conferência de paz sobre a Síria, denominada Genebra II, que será realizada em meados de novembro com o objetivo de tentar organizar uma transição política no país mergulhado em uma sangrenta guerra civil.
JB