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segunda-feira, 16 de julho de 2012

A esperança marcou as homenagens às vítimas do genocídio de Srebrenica


Após 20 anos do início da Guerra da Bósnia, familiares das vítimas do genocídio de Srebrenica, maior símbolo do conflito, marcaram o aniversário do massacre com um aceno de justiça. Como fazem há 17 anos, os muçulmanos bósnios lembraram, na última quarta-feira, os mortos do massacre cometido entre 11 e 16 de julho de 1995. Foi a primeira vez que a homenagem foi prestada com os dois principais responsáveis pela chacina — os líderes sérvio-bósnios Ratko Mladic e Radovan Karadzic — no banco dos réus. Na ocasião, 520 famílias puderam finalmente enterrar os restos de seus entes queridos, só agora encontrados e identificados. A atrocidade foi cometida por tropas sérvias após tomarem o reduto muçulmano de Srebrenica, que era tratada pelas Nações Unidas como “zona de proteção”, a poucos meses do fim do conflito. Estima-se que cerca de 8 mil homens e adolescentes tenham sido assassinados.

Acusados dos mesmos crimes, o general Mladic, 70 anos, e o dirigente político Karadzic, 67 anos, permaneceram foragidos por anos, mas agora são julgados pelo Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia (TPII), em Haia (Holanda). Na última segunda-feira, a primeira testemunha no processo de Mladic foi ouvida, mas o processo foi suspenso após a hospitalização do acusado, que desmaiou na Corte. O processo deverá ser retomado amanhã. O general ganhou o apelido de “açougueiro dos Bálcãs” e passou 16 anos foragido, até ser preso na Sérvia, em 2011.

Karadzic foi encontrado em Belgrado em julho de 2008. Em junho passado, a defesa conseguiu que fosse retirada uma das acusações, mas ele continua a ser julgado pelo genocídio de Srebrenica, além de mais nove crimes contra a humanidade e crimes de guerra cometidos durante a Guerra da Bósnia (1992-1995). O conflito deixou 100 mil mortos e 2,2 milhões de deslocados.



Em 1990, nas primeiras eleições livres da Iugoslávia, forças nacionalistas venceram nas diversas repúblicas que integravam a federação comunista. Na Bósnia-Herzegovina, formou-se um governo multiétnico, composto por muçulmanos, sérvios e croatas e presidido pelo bósnio Alija Izetbegovic. Em outubro do ano seguinte, o parlamento bósnio declarou a independência.

Os sérvios, opositores do novo Estado, romperam com o governo multiétnico e anunciaram a intenção de permanecer na Iugoslávia ou em uma Grande Sérvia, que incluiria partes da Bósnia e da Croácia. Na tentativa de contornar a crise, o governo bósnio convocou em 1992 um plebiscito, boicotado pelos sérvios. O país passa a ser reconhecido pela União Europeia e pelos Estados Unidos, mas submerge na guerra civil.

No início do conflito, os sérvios se opunham a uma aliança muçulmano-croata e recorreram à prática que ficou conhecida como "limpeza étnica" — a remoção forçada, e eventual assassinato em massa, das etnias rivais. A operação deixa um rastro de foragidos, campos de concentração e cemitérios clandestinos. Croatas e bósnios também cometeram massacres, mas em menor escala. O governo bósnio pede uma intervenção externa, mas recebe apenas ajuda humanitária.

Em 1993, a Croácia entrou na guerra e reivindicou parte do território bósnio, mas logo voltou-se contra a Sérvia. A Organização das Nações Unidas (ONU) enviou uma força de paz, mas no mesmo ano os sérvios dominavam 70% da Bósnia. Somente dois anos depois a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) interveio no conflito, com cobertura da ONU, bombardeando posições sérvias. Derrotas militares sérvias em território da Croácia e da Bósnia equilibraram as forças e facilitaram a costura de uma proposta de paz pelos Estados Unidos. A guerra terminou em novembro de 1995, com a assinatura do Acordo de Dayton.

Fonte:Renata Tranches