É o primeiro pleito após o fim do regime Kadafi. Eleicões diplomáticas em 40 anos.
Líbia vai às urnas em maior teste democrático da era pós-Kadafi
A Líbia começa a viver neste fim-de-semana seu maior teste político desde o fim da era Muammar Kadafi, o general que comandou o país por mais de quatro décadas até ser morto nos apagar das luzes de uma guerra civil em outubro de 2011. Neste sábado, os eleitores líbios vão às urnas de todo o país para eleger os membros do Congresso Nacional Líbio, primeira formação política eleita nesta nova era da nação do norte africano.
Cerca de 2,7 milhões de líbios estão autorizados a participar do pleito, representando proporcionalmente a população total de 6 milhões de habitantes espalhados pelas 72 circunscrições do país. Eleitores votarão para eleger os 200 políticos que formarão o Congresso. Destes 200 assentos, 120 serão preenchidos por candidatos independentes e 80 por movimentos políticos - divisão adotada para evitar o eventual de um único partido. Há 2,5 mil indivíduos correndo às 120 cadeiras independentes. Às 80 restantes concorrem 500 candidatos de listas partidárias.
A função primordial do Congresso Nacional Líbio será substituir o Conselho Nacional de Transição, em torno do qual a oposição síria se organizou durante o levante popular de 2011 e responsável pela liderança do país após o fim de Kadafi. Caberá ao Congresso Nacional Líbio, uma vez formado, o início de um novo governo democrático. Por ele passará a tarefa da formação de um grupo que redigirá uma Constituição - entidade inexistente durante os 42 anos de Kadafi, que baseava seu governo em um famoso 'Livro Verde' que ditava em linhas pouco claras como o Estado líbio deveria ser organizado.
Sob diversos aspectos, as primeiras eleições livres em quase meio século da Líbia representam o maior desafio democrático desde o início da chamada Primavera Árabe. O país chega a este momento após a guerra da queda do regime de Kadafi, mais sangrenta, longa e devastadora que os protestos e confrontos que levaram ao fim dos governos de Ben Ali, na Tunísia, e de Hosni Mubarak, no Egito. E se o contexto é o mais desgastado, o ambiente eleitoral é também o menos desenvolvido, pois a ditadura centralizadora e personalista de Kadafi virtualmente extirpou o sistema político do país.
Os partidos políticos já estavam proibidos antes mesmo do golpe de Kadafi, em 1969. Agora, três tiveram destaque. Dois são islamitas: o Partido da Justiça e da Construção (PJC), um braço da Irmandade Muçulmana, e o Al-Watan, do polêmico ex-chefe militar de Trípoli Abdelhakim Belhaj. O terceiro é de liberais, reunidos em uma coalizão lançada por Mahmud Jibril, ex-premiê do Conselho Nacional de Transição.
Arrasada pela guerra e verde na democracia, a Líbia é ainda um país perigosamente marcado por uma forte divisão de tribos e grupos. Além de confrontos persistentes entre milícias e revolucionários, há líbios berberes, tuaregues e tebous e moradores da região de Bengazi, conhecida como a capital da resistência revolucionária durante os meses de guerra contra o governo de Kadafi.
Uma das grandes incertezas é o mosaico político que se formará a partir de um país fragmentado entre tantos grupos e de desenvolvimento democrático tão incipiente. Uma das maiores dúvidas é se o país seguirá o movimento de fortalecimento da política islâmica, conforme já verificado nas primeiras eleições pós-Primavera de Tunísia, Egito e Marrocos.
Fonte:JB
Com informações de AFP, BBC, EFE e Reuters.