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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Delegado que na vice-governadoria investigava agora é investigado


Delegado que na vice-governadoria investigava agora é investigado

Servidor da PF foi o alvo principal de operação que investigou esquema ilegal de exumação de cadáveres

Delegado que na vice-governadoria investigava agora é investigado


O delegado federal Marcelo Nogueira de Souza que, desde 2007 atuava na área de inteligência da vice-governadoria do Estado do Rio, colaborando nas investigações em torno das obras do PAC, agora é investigado.
Ele é o principal alvo da "Operação Dignidade" que nesta quinta-feira (5) desbaratou um esquema ilegal de exumação de cadáveres para reaproveitamento das covas, em cinco cemitérios de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Coincidentemente, nesta quinta-feira, o Diário Oficial do Estado publicou a exoneração "a pedido" do delegado suspeito. Segundo a assessoria do vice-governador Luiz Fernando Pezão, a exoneração foi solicitada no dia 1º, embora publicada quatro dias depois. Na explicação oficial, a indicação do delegado Souza para atuar na vice-governadoria "foi da área técnica a fim de desenvolver trabalho de inteligência policial nas obras do PAC das comunidades".
O delegado foi sócio de duas das sete funerárias que realizam enterros em Caxias. Até hoje, os mesmos estabelecimentos continuam sob gestão de seus familiares. Seis funerárias, das quais cinco em Caixas - Funerária Nossa Senhora da Apresentação LTDA EPP, JNS Serviços Funerários LTDA, JNS Rede de Assistência Familiar, Nova Assistência - Consultoria e Assessoria Empresarial LTDA. e Envida Auxílio Funeral - e a JBS Serviço Funerário Internacional LTDA ME, no Rio, são de seus familiares.
Elas, junto com a Nova Assistência - Serviços e Assistência 24h LTDA., que pertence a conhecidos dele, monopolizam o setor em Caxias. As informações foram descobertas após uma CPI na Câmara de Vereadores do município e tornaram-se motivo de investigação da Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da Polícia Federal (DMAPH). 
Na operação desta quinta-feira, da qual participaram policiais civis da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), policiais militares do Batalhão de Polícia Florestal e Meio Ambiente (BPFMA), e técnicos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), constatou-se a exumação de cadáveres antes de decorridos os três anos exigidos por lei. "Os ossos eram retirados antes do tempo de exumação para dar lugar a outro pagante. O que vemos aqui é indigno", comentou Fábio Sclia, titular DMAPH.
Outra suspeita levantada foi a da possível venda de ossadas para universidades e rituais de magia negra. Como o Jornal do Brasil já informou, no cemitério Nossa Senhora das Graças, na Vila Operária, entre as ossadas exumadas fora do tempo estava a do menor Henrique Guilherme Mendes da Silva, de um ano, enterrado em novembro passado. Sua cova estava aberta e vazia. Os ossos desapareceram. "A administração do cemitério terá que explicar o destino do corpo", prometeu o titular da DPMA, delegado José Fagundes de Rezende.
O pai do delegado Nogueira, Joarene Nogueira de Souza, confirma ser sócio de duas funerárias e diz que abriu os estabelecimentos após vencer licitação no município. Segundo ele, até então funcionava uma máfia na cidade que quer retomar os negócios.
"Antes de abrir a Funerária Nossa Senhora da Apresentação Ltda. EPP, em 2009, esse serviço era uma máfia e essas mesmas pessoas que comandavam o esquema estão fazendo de tudo para retornar", acusou Joarene. 
Ele negou a existência de acordo entre funerárias e os cemitérios da cidade para a liberação de covas com exumações precipitadas. Segundo a polícia, as covas "abertas" com a retirada dos corpos antes de três anos enterrados, só serviam para enterrar corpos enviados pelas funerárias que participavam do esquema, ou seja, as que pertencem à família do delegado.
Coincidentemente, a empresa que ganhou, em janeiro, a licitação para explorar os cinco cemitérios da cidade, a AGR-EYE, tem como advogado Frederico Costa Ribeiro. Ele vem a ser sócio da Envida Auxílio Funeral junto com Joarene Nogueira de Souza Junir, irmão do delegado Nogueira. Apesar disto, Joarene, o patriarca da família, acha injusta a acusação contra o seu filho delegado. No seu entendimento, ele é alvo dos invejosos. "Estão sujando o nome dele".
Uma denúncia da CPI, realizada ano passado, informava que as funerárias teriam prioridade junto aos cemitérios em Caxias. Por este acerto, só estas mesmas funerárias conseguem vaga para realizar enterros. Joarene admite a existência de prioridade, mas diz que ela não é para as funerárias e sim para os moradores da cidade, uma vez que há pouco espaço para os mortos na região.
Falando como advogado da AGR-EYE, Ribeiro explicou que os cemitérios contratam uma empresa de Nova Friburgo para a incinerar os ossos exumados e prometeu apurar porque eles foram encontrados fora das covas, ao relento. 
Fonte:Nathália Marsal/JB