A técnica é uma versão avançada de um tratamento desenvolvido há
quatro anos em Londres. Pela primeira vez, cientistas tentaram
compensar um problema genético nas células que captam a luz,
posicionadas no fundo do olho, injetando cópias de genes saudáveis.
O paciente é um advogado de Bristol, Jonathan Wyatt, de 63 anos, que sofre de uma condição genética conhecida como choroideremia.
Wyatt foi o primeiro de 12 pacientes submetido à técnica experimental.
A experiência com a nova técnica deve durar dois anos no Hospital John Radcliffe, de Oxford.
O médico de Wyatt, professor Robert MacLaren, acredita que só dentro
de dois anos poderá terá certeza se a degeneração da visão do paciente
parou de avançar. Se isto ocorrer, a visão do advogado terá sido salva.
- Se isto funcionar então vamos querer tratar pacientes muito mais
cedo, na infância, quando eles ainda tem visão normal (…) para evitar
que eles percam a visão, afirmou.
MacLaren afirma que, se esta terapia funcionar, poderá ser usada
também para outras doenças da visão, incluindo a forma de cegueira mais
comum entre idosos, a degeneração macular.
Esta é uma doença genética e não tenho dúvidas de que, no futuro, vai haver um tratamento genético para ela, disse.
Visão prejudicada
Jonathan Wyatt enxergava normalmente até os 19 anos, quando começou
a ter problemas para enxergar em ambientes escuros. Médicos disseram
que a visão dele iria piorar e que ele poderia ficar cego.
Há dez anos ele começou a ter dificuldades para ler declarações durante julgamentos, em salas com menos iluminação.
- A pior ocasião foi quando eu estava lendo uma declaração para a
corte e cometi um erro. O juiz me perguntou ‘O senhor não sabe ler, Sr.
Wyatt?’. Então decidi abandonar a advocacia, disse.
Atualmente ele trabalha em casa e, sem o tratamento, aguardava ficar
cego dentro de poucos anos. O advogado espera que o tratamento permita
que ele continue em sua profissão.
A doença de Wyatt, choroideremia, é rara e é causada por uma versão defeituosa do gene chamado REP1. O problema faz com que as células do olho que detectam a luz, que ficam no fundo do olho, morram.
Os portadores da doença tem uma visão normal, mas, no final da infância, começam a deixar de ver durante a noite.
A partir daí a visão entra em fase de gradual degeneração. Os
médicos afirmam que os pacientes podem perder totalmente a visão quando
estão por volta dos 40 anos. Não havia tratamento para este problema.
A nova terapia genética testada em Oxford é simples: o processo de morte das células detectoras de luz é suspenso quando cópias sem defeito do gene REP1 são injetadas nestas células.
Tratamento em dez anos
A pesquisa de Oxford foi feita depois de um teste com terapia genética que começou há quatro anos no Hospital Moorfields, em Londres. O objetivo principal destes testes é demonstrar que a técnica usada em Londres é segura.
O tratamento, que adota um procedimento um pouco diferente, foi
testado primeiro em adultos que já tinham perdido quase toda a visão e
depois em crianças.
De acordo com o professor Robin Ali, que liderou esta pesquisa, os
testes mostraram que a terapia genética é segura e que houve uma
melhora significativa em alguns pacientes.
O presidente da Academia de Ciências Médicas da Grã-Bretanha, John
Bell, afirmou que estes testes de terapias genéticas em Oxford e
Londres sugerem que vários problemas de visão sem cura poderão ter um
tratamento “dentro dos próximos dez anos”.