Pesquisar o SITE

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Morte de Kadafi consolida transição

Tribuna do Norte




Nova York e Paris (AE) - A morte de Muamar Kadafi, que governou a Líbia durante quase 42 anos (ele tomou o poder em golpe de Estado em 1º de setembro de 1969), repercutiu ontem entre as vítimas de supostos atentados maquinados pelo ex-governante, como também entre líderes europeus, africanos e das Américas. Vários deles, como o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, disseram que a morte do ex-governante representará uma "transição histórica" para a Líbia. "Nos próximos dias nós testemunharemos cenas de celebração, bem como o luto daqueles que perderam tanto", disse Ban na sede da ONU. "Vamos reconhecer imediatamente que este é apenas o fim do começo. O caminho pela frente para a Líbia e seu povo será difícil e cheio de desafios. Agora é hora de todos os líbios se unirem."

Mahmud Turkia /France Presse/AEPopulares usam celulares para fotografar corpo do ex-ditador líbioPopulares usam celulares para fotografar corpo do ex-ditador líbio
Ban afirmou que "combatentes de todos os lados precisam entregar suas armas em paz. Esta é a hora para a cura e a reconstrução, para a generosidade de espírito, não para a vingança". O secretário-geral da ONU disse que, no momento em que as autoridades do regime de transição preparam o caminho para eleições, há muitos passos pela frente para a construção de uma nova nação, e "a inclusão e o pluralismo" devem ser palavras de ordem.

O governo da África do Sul disse que a morte de Kadafi "levará a um cessar-fogo das hostilidades e à restauração da paz" na Líbia A África do Sul relutou bastante em aceitar o Conselho Nacional de Transição (CNT) como governo legítimo da Líbia. A África do Sul disse que irá cooperar com a União Africana e outras organizações internacionais "para garantir um apoio coordenado ao CNT e ao povo líbio, para a reconstrução do país e para trazer mudanças democráticas, políticas e sócio econômicas" à Líbia.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, definiu a morte de Kadafi como um "grande passo" para o país rumo à democracia. "A liberação de Sirta precisa marcar, de acordo com compromisso feitos pelo Conselho Nacional de Transição, o início de um processo, aprovado pelo CNT, que irá estabelecer um sistema democrático na Líbia, no qual todos os partidos tenham um lugar e onde a liberdade fundamental seja garantida", afirmou Sarkozy em comunicado. Sarkozy disse que a França segue ao lado do povo líbio e que continuará a apoiar o país do norte africano em sua trajetória para a democracia.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que o regime de Muamar Kadafi está "definitivamente" encerrado. "Isso marca o fim de um longo e doloroso capítulo para o povo da Líbia, que agora tem a oportunidade de determinar seu próprio destinado numa nova e democrática Líbia", disse Obama no Jardim das Rosas, na Casa Branca. O presidente americano saudou o fim do regime de Kadafi, depois de os rebeldes líbios anunciarem a morte do ditador, como um momento importante para os líbios e para o mundo. "Um dos mais antigos ditadores do mundo não existe mais", acrescentou Obama. 

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, defendeu a reconstrução da Líbia e disse que o Brasil tem feito todos os esforços para que haja essa reconstrução diante de um clima de paz. Ela disse que a Líbia está passando por um processo de transformação democrática, mas que "isso não significa que a gente comemore a morte de qualquer líder que seja", referindo-se à captura e morte do líder deposto Muamar Kadafi. Dilma deu as declarações pouco antes de voltar de Angola ao Brasil.

Muamar Kadafi foi capturado vivo

Tripoli (AE) - Até o final da noite de ontem não estavam claras as circunstâncias que resultaram na captura e morte de Muamar Kadafi. O primeiro-ministro interino Mahmoud Jibril disse que Kadafi foi morto na sua cidade natal de Sirta, último reduto dos seus partidários no oeste da Líbia, onde o ex-governante entrincheirado resistia aos bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e aos ataques das tropas do novo governo líbio. Um dos filhos de Kadafi, Mutassim, também foi morto na conquista da cidade pelos ex-insurgentes. 

O governo interino deverá fazer ainda hoje, uma declaração de libertação e final da luta, uma vez que ainda existem milhares de partidários de Kadafi na Líbia. "Esperamos um longo tempo por este momento. Muamar Kadafi foi morto", disse Jibril em entrevista coletiva na capital líbia.

A Anistia Internacional, grupo de defesa dos direitos humanos com sede em Londres, pediu ao governo interino da Líbia que torne públicos os detalhes completos sobre a morte de Kadafi e afirmou que os membros do antigo regime precisam ser tratados de uma maneira humanitária. Segundo o grupo, é essencial que seja conduzida uma "investigação completa e imparcial para estabelecer as circunstâncias da morte do coronel Kadafi", que teria sido capturado vivo.

Segundo informações da agência italiana Ansa, que citou a emissora de televisão Al Jazeera do Catar, Kadafi foi morto pelos insurgentes após ter sido capturado em um buraco em Sirta. Ele teria gritado "não disparem" aos seus captores, que o jogaram contra o capô de uma picape, mostra o vídeo da Al Jazeera. Aparentemente, Kadafi foi morto logo depois, embora as imagens exibidas pela emissora do Catar não mostrem o momento da execução. Mostram apenas o cadáver ensanguentado do ex-governante líbio no chão.

Segundo um integrante do novo governo líbio, Abdel Majid, Kadafi tentava fugir de Sirta em um comboio, mas os veículos foram atingidos por bombas de um caça da Otan. Então o governante teria entrado em um bunker.  Alguns outros meios de imprensa afirmam que Kadafi foi morto a tiros por um jovem insurgente de 18 anos, que usou a própria pistola dourada do ex-governante para matá-lo.  O corpo será sepultado em  local secreto. 

Chavez não reconhece novo governo

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, expressou  descontentamento com a morte de Muamar Kadafi, chamando o ocorrido de "ofensa" e dizendo que o líder líbio deposto foi um "mártir", informou a AFP. "Infelizmente a morte de Kadafi foi confirmada", disse Chávez, que acaba de voltar à Venezuela após um tratamento contra o câncer em Cuba. "Eles o assassinaram, é outro ultraje. Devemos lembrá-lo como um grande lutador, um revolucionário e um mártir", disse.

O presidente venezuelano se recusou a reconhecer o novo regime líbio e ridicularizou o novo representante do país na ONU como "marionete" e "boneco". 

Familiares das vítimas do atentado de Lockerbie, quando terroristas supostamente a mando do regime de Kadafi explodiram um Boeing 747 sobre a Escócia em 1988, se disseram aliviados com a morte do ex-governante líbio. Kadafi foi acusado de ser o mentor da explosão do avião da Pan American, que matou todos os 259 passageiros e tripulantes a bordo, bem como 11 escoceses na cidade de Lockerbie, atingidos por destroços da aeronave. 

A norte-americana Susan Cohen, que perdeu a filha de 20 anos, disse que o mundo será um lugar melhor sem Kadafi. Ela disse esperar que Kadafi tenha deixado provas do envolvimento líbio no atentado. Muitas das vítimas de Lockerbie eram norte-americanos que viajavam de Londres a Nova York. Em Londres, o primeiro-ministro britânico David Cameron disse que "hoje é um dia para lembrar todas as vítimas de Kadafi".

O Vaticano anunciou ontem que considera o governo interino da Líbia como governante legítimo do país do Magreb, agora que Kadafi foi morto. O escritório de imprensa do Vaticano disse em comunicado que a morte de Kadafi finaliza uma luta "longa e trágica" para derrubar um regime "cruel e opressivo". O escritório de imprensa do Vaticano disse que a chancelaria da Santa Sé estava em contato com políticos do Conselho Nacional de Transição (CNT) da Líbia na Embaixada líbia para o Vaticano em Roma e também com representantes do CNT na Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York.