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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Biografia revela vida de militância de autor da trilogia Millennium

 (Hanna Teleman/Divulgação)











Biografia revela vida de militância de autor da trilogia Millennium
Biografia de Stieg Larsson ilumina militância política e antifascista do autor da trilogia Millennium, um dos maiores fenômenos editoriais da última década



Stieg Larsson: luta literária contra o avanço dos ultraconservadores suecos e dos nazistas no mundo
Stieg Larsson: luta literária contra o avanço dos ultraconservadores suecos e dos nazistas no mundo



A primeira coisa que se imagina de um relato como o escrito por Jan-Erik Pettersson, sobre o best-seller Stieg Larsson, é que o segredo por trás de um dos maiores estrondos literários dos últimos tempos será revelado. A trilogia Millennium, publicada postumamente entre 2005 e 2007 — Larsson morreu em 2004 aos 50 anos, de ataque cardíaco —, vendeu mais de 65 milhões de cópias no mundo todo. Nas centenas de páginas escritas pelo jornalista sueco, desfia-se uma trama de conspiração nazista, assassinato em série e contendas familiares em torno de um antigo caso de desaparecimento escavado por um jornalista falido e uma hacker avessa a emoções. Porém, Stieg Larsson — A verdadeira história do criador da trilogia Millennium (Companhia das Letras) é bem menos sensacionalista do que parece.

Pettersson traça a história do extremismo pós-Hitler por meio da atuação engajada de um incansável investigador do tema, que conseguiu, anos depois, traduzir as hostilidades de ultraconservadores suecos na celebrada saga de Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander, adaptada ao cinema na Suécia e nos Estados Unidos. É, antes de biografia, um breve e conciso livro de história — sobre violências raciais adormecidas e, também, sobre a evolução dos thrillers literários suecos. “O fenômeno não surgiu do nada, é claro: foi resultado do amplo crescimento da ficção policial sueca, que por sua vez está estreitamente relacionado à sociedade sueca, a seus valores e às mudanças políticas e sociais que de modo tão incansável vêm testando seus ideais”, comenta o autor, no prefácio.





"Os debates políticos na casa de seus pais se tornaram cada vez mais acalorados, em particular por causa da Guerra do Vietnã. Erland
diz que foi quando ele perdeu uma discussão para o filho pela primeira vez. Acha que foi porque os grupos esquerdistas eram de fato treinados para defender seus pontos de vista.

A política era parte integrante da vida doméstica deles, algo a que Stieg estava acostumado desde a mais tenra infância por causa do avô materno, Severin Boström, um comunista fiel. Erland e Vivianne eram ambos sociais-democratas e ativos na Federação de Empregados do Comércio de Varejo. Vivianne também estava envolvida na política local, fazia parte do conselho municipal e de sua comissão para os deficientes físicos, além de membro fundador da primeira comissão de direitos humanos em Umea.

Portanto, nada mais natural que Stieg e seus pais debatessem o que estava acontecendo na Suécia e no mundo, e discussões veementes
irrompessem de vez em quando em torno da mesa da cozinha. Para Stieg, os socialistas — ou seja, seus pais — eram reacionários e traidores dos ideais do socialismo.

Claro que era importante desafiar a geração dos pais em todas as esferas possíveis, não apenas na política. Em certa ocasião, pouco antes do aniversário de dezoito anos de Stieg, Erland chegou do trabalho noturno de porteiro de cinema e deu com Vivianne em prantos diante da pia da cozinha. “Você precisa falar com Stieg”, disse ela. Stieg tinha nas mãos uma folha de papel, para os pais assinarem, solicitando seu afastamento da Igreja da Suécia. Erland não achou que fosse um problema tão grave, porque Stieg faria dezoito anos dali a poucos meses e, de qualquer maneira, ele próprio poderia solicitar sua saída. (Na Suécia, o indivíduo é integrado automaticamente à Igreja oficial a menos que faça um requerimento solicitando seu desligamento.) “Ainda assim, eles haviam brigado por causa disso durante três horas, o que mostra como essas questões provocavam tensão naquela época”, disse Erland. 

Stieg tentou mais tarde convencer seu irmão Joakim a sair da Igreja, o que ele de fato fez com cerca de trinta anos. “Depois da morte de Stieg, ponderamos se seria aceitável fazer um enterro religioso, já que ele não era ligado à Igreja oficial”, conta Joakim. “Mas descobrimos que ele ainda era. Nunca se deu ao trabalho de requerer sua saída. Tive a impressão de que ele estava rindo de mim lá no céu dele.”

Por Felipe Moraes/CB