Pesquisar o SITE

domingo, 25 de novembro de 2012

Nova manifestação, desta vez pacífica, contra resort em reserva ambiental



 Nova manifestação, desta vez pacífica, contra resort em reserva ambiental
Flores chegaram a ser entregues aos policiais militares no ato em sábado ensolarado, sem maiores incidentes

Nova manifestação, desta vez pacífica, contra resort em reserva ambiental

A área próxima à reserva ambiental de Marapendi, na Barra da Tijuca, teve um público diferente na manhã deste sábado(24). Foram os cerca de 400 ativistas pela não construção de um resort na área que já pertenceu à reserva, que fincaram cruzes verdes na areia da praia em frente à reserva, onde o movimentou se concentrou. E, diferente da primeira manifestação, no dia 17, o clima desta vez foi tranquilo.
Os ativistas chegaram a entregar flores aos policiais militares presentes, demonstrando o pacifismo do movimento. Não deixaram, porém, de cantar músicas de protesto contra o atual prefeito, Eduardo Paes, além de fazer apelos pela preservação da natureza.
"Não somos  arruaceiros"
Em uma manifestação tranquila, chamou a atenção a entrega de flores aos soldados da Polícia Militar, que fazia a segurança no local. Raphael Lopes, um dos organizadores do Movimento S.O.S Reserva, conclamou os ativistas ao ato:
"Essa é uma vingança pacífica contra a repressão que aconteceu na semana passada", gritava Lopes, em referência ao gás de pimenta usado pela polícia contra os manifestantes no dia 17. Em seguida, ele pediu aplausos aos policiais que ali estavam, no que foi prontamente atendido pelos manifestantes.
Eliane Farias, outra organizadora do ato deste sábado, disse que quase foi presa na semana passada. "O policial perguntou se eu queria virar mártir", lembra. Em discurso, fez questão de ressaltar o caráter pacífico do movimento: "Não somos  arruaceiros. Em apenas uma semana nos fizemos presentes e estamos sendo ouvidos, e isso não pode parar", disse Eliane, abafada pelos aplausos.
Tadeu Carvalho, representante da ONG S.O.S Autódromo, fez duras críticas à administração atual da cidade, tendo em vista os grandes eventos que o Rio receberá até 2016:
"Estão destruindo da natureza por causa de alguns dias daqui a dois ou quatro anos. Estão usando a Copa do Mundo e as Olimpíadas para vender esta cidade. Onde está o Ministério Público?", questionou Carvalho.
O peso, porém, estava só nas críticas. Diferente da semana passada, quando os dois sentidos da rua foram fechados, causando tumulto, apenas dois minutos eram usados para a tomada da pista, por recomendação dos próprios organizadores da manifestação."Na semana passada, os carros não podiam nem passar. Hoje nosso trabalho está mais tranquilo, pode ter certeza", disse um guarda municipal.
Bioma ameaçado
O biólogo e ativista ambiental Marcello Mello afirma que o espírito olímpico está comprometido devido à parceria público-privada e empreiteiros:
“A reserva da Barra da Tijuca é um patrimônio do Rio e do Brasil, preservada há muito tempo. Esta floresta em destruição é um bioma da Mata Atlântica, um dos mais ameaçados do mundo, diferente do Amazônico, que está bem preservado. Nossos administradores públicos não se preocupam com a preservação desta área do Marapendi. Querem poder e, para isso, precisam de financiamento de grandes empresas. Já as detentoras de poder financeiro são empreiteiras que representam os hotéis internacionais. Eles veem a Mata Atlântica como um obstáculo que deve ser devastado para construírem seus empreendimentos”, alerta o biólogo.
1 / 38
Mello criticou ainda o silêncio do Instituto Estadual do Ambiente(Inea) e do Secretário Estadual do Meio Ambiente, Carlos Minc, sobre a destruição da área da reserva:
"A Marilene Ramos, presidente do Inea, deveria ter questionado essa construção, assim como o Minc. Ele é um grande defensor, mas ultimamente parece não estar muito preocupado com o meio ambiente", disparou o biólogo.
Frequentadores apreensivos
Moradores da região e comerciantes também aderiram à manifestação e contaram, com seus casos, sua preocupação com as consequências da construção do resort, previsto para ser inaugurado em 2015.
"Soube que houve uma capivara que saiu de dentro da reserva e teria tomado um tiro de um dos seguranças. Segundo gente que frequenta a praia diariamente, isso é o que eles andam fazendo com os animais", contou um lojista, que preferiu não se identificar. Já Rodrigo Costa, de 27, disse que as obras acabaram cortando um cabo de energia que abastece todos os quiosques da praia, causando queda de luz em todos os que ficam da área da reserva nesta sexta-feira:
"Fiquei sem luz de 8h30 às 22h. Você imagina o tamanho do meu prejuízo? Fui lá na obra e pedi R$ 2.000, eles ofereceram só R$ 500 e me disseram para entrar na justiça. É o que eu vou fazer. Posso ser um grande beneficiado com esse hotel no futuro, mas essas obras, se forem feitas desse jeito, podem prejudicar nosso trabalho", alega ele.
Edson Luiz Carvalho Souza é morador da área do Mandala, perto da reserva, há 22 anos e também está preocupado com as obras do resort: "Como é que podem destruir todo o meio ambiente desse paraíso?", questionou o morador.

Hyatt se defende
Em nota, a rede Hyatt alega: "...Em 1993 foi editado o decreto nº 11.990/1993, regulamentando a implantação e o uso desta APA com 9.165 433 m². Nesta ocasião, foi excluída da APA a parte degradada do terreno onde será construído o empreendimento.
Em 2005 foi promulgada a Lei Complementar nº 78/2005, que definiu os parâmetros construtivos do terreno.
Em setembro de 2011 a Prefeitura do Rio de Janeiro criou, através do decreto nº 33.443/2011, o Parque Natural Municipal da Barra da Tijuca em parte da APA, ocupando cerca de 1.700.000 m² ao longo de 6.850 metros da Avenida Lúcio Costa e impedindo novas edificações em toda a sua extensão nos limites propostos  pelo Decreto nº 11.990/1993. Reiteramos que o terreno de propriedade da rede Hyatt não se encontra incluído nos limites deste Parque", diz um trecho da nota. A rede informa ainda que foi realizada uma audiência pública em 2008, com participação da sociedade civil e que as obras beneficiarão a população local.

Por Henrique de Almeida