Charles Hoy Fort
Charles Hoy Fort (1874 – 1932) nasceu em Albany, Nova York, numa prospera família de imigrantes holandeses. Aos vinte e três anos lia todos os livros e revistas científicas que encontrava, acumulando vinte e cinco mil notas sobre a imagem pública de infalibilidade da ciência. Essas notas acabaram queimadas (não eram o que eu queria). Em 1915, ele já possuía outras dezenas de milhares de notas. A morte de um tio deixou-lhe uma herança, o que permitiu que se dedicasse exclusivamente às suas pesquisas.
O Livro dos Danados, seu livro publicado com auxílio do amigo Theodore Dreiser, chocou os críticos da época. Fort mostrava cinismo quanto as explicações científicas. Ele observava que os cientistas freqüentemente se colocavam contra ou a favor de teorias, fatos ou fenômenos diversos de acordo com suas crenças, não se sujeitando aos fatos. Ficava especialmente chocado ao ver que qualquer acontecimento que não se encaixava no ponto de vista de determinado cientista, ou na opinião geral, era ignorado, suprimido, desacreditado ou explicado de maneira inconsistente. Esses acontecimentos, rejeitados e odiados pelos que acreditavam ser os donos da verdade eram os malditos (danados) aos quais dedicou seu livro.
Fort nos ensinou que a realidade não se comporta conforme nossas determinações, ela nos prega peças, e faz isso com freqüencia maior do que gostaríamos. Desaparecimentos inexplicáveis, paranormalidade, assombrações. Fort era um pesquisador eclético.
ESSES MALDITOS
A questão das Precipitações tem lugar especial na literatura fortiana. Coisas estranhas que caem do céu e desafiam todas as explicações triviais levaram ao desenvolvimento de agudas especulações por parte de Fort, culminando com hipóteses de teleporte e intersecção dimensional, que ainda consideramos pertinentes e tiveram grande influência nos romances de ficção e fantasia.
Consideramos a Criptobiologia, significando a procura de criaturas cuja existência é ignorada ou desdenhada pela ciência, especialmente fascinante. A criptozoologia e a criptozoologia, apesar do desdém do ceticismo dogmático, já encontraram e ainda encontram um número impressionante de criaturas até então desconhecidas. O registro do aparecimento efetivo de seres mitológicos, lendários ou monstruosos forma um vigoroso capítulo a parte das pesquisas fortianas.
Povos e Civilizações desconhecidos, em Terras Lendárias, com conhecimento tecnológico complementar ou superior ao nosso, também são um tema recorrente. Nos trabalhos de Fort sua presença era mais marcante como hipótese, tendo estudos exaustivos, mais ou menos consistentes, sobre sua possibilidade ocorrido depois por diversos autores. Por mais fantasiosa que a ideia possa parecer para alguns, Comunidades Autóctones são registradas ainda nos dias de hoje.
OUTRAS ESTRANHEZAS
Os sentidos humanos e animais parecem ter a capacidade de exercer efeitos muito concretos sobre os indivíduos, apesar desse entendimento só ter evoluído no ocidente há muito pouco tempo. O valor do tato, por exemplo, só ganhou força a partir da década de 1960, com as odiosas e importantes pesquisas de H. Harlow,1ainda não completamente exploradas.2 Audição e olfato são considerados de forma apreciável em marketing e entretenimento, mas não em outras aplicações.
Indícios apontam para um conhecimento e utilização mais efetivos desses efeitos através do estímulo dos sentido no passado, em parte preservados no Do-in, Shiatsu e outras técnicas, também havendo elementos de uma tecnologia perdida do som, onde seria possível obter efeitos (“abre-se sésamo”) ou mesmo a morte de outras pessoas por meio de palavras.3 Elementos que auxiliem uma investigação sobre efeitos anômalos de estímulos sensoriais, bem como casos de percepção extra sensorial e sinestesia estão destacadas no site pela etiqueta Distesias.
Há milênios, tradições pregam a existência de artifícios capazes de proporcionar informações ocultas sobre passado, presente e futuro. Muitas dessas técnicas são consideradas hoje como superstições ou embustes. Ramos como quirologia e frenologia, afirmando que características físicas podem qualificar a mente e a personalidade de pessoas e animais, têm seu repúdio agravado pelo receio de suas técnicas voltem a ser empregadas para justificar “cientificamente” o racismo.4
Entendemos que esse receio é compreensível, mas não justificável. Artigos com evidências de que há fundamento na premissa de que características físicas podem identificar qualifidades mentais, emocionais ou psicológicas são destacados pela etiqueta Biometrismo. Elementos que apresentem ou auxiliem a avaliação de técnicas que afirmam promover a previsão de eventos ou consequências futuras são identificados pela etiqueta Advinhação.
Classificamos como Perturbações os eventos e fatos que se desviam da normalidade e cuja causa o conhecimento estabelecido atribuí a acidentes, doenças ou anomalias genéticas. Pessoas com “poderes” ou talentos especiais são classificamos como Prodígios.
FRONTEIRAS DA CIÊNCIA
Certos limites na nossa capacidade de compreensão são reconhecidos pela própria comunidade científica. No universo da atmosfera, Buracos Fallstreak às vezes surgem sem motivação clara, apesar de seus mecanismos de formação serem razoavelmente conhecidos. Já os Relâmpagos Globulares, mesmo sempre constando na lembrança dos céticos quando buscam explicar Discos Voadores, carecem inteiramente de explicação.
As imensas criaturas jurássicas e a megafauna do Pleistoceno mostram que, por algum motivo, os seres vivos da Terra já foram muito grandes. Eles diminuíram ou se extinguiram com o tempo e ainda não há consenso sobre as causas. Condições ambientais favoráveis não bem definidas, a ação humana e até uma controversa segunda lua, que reduzia a força gravitacional, já constaram como hipóteses. O fato é que indícios apontam que o fenômeno ocorre mesmo em épocas muito recentes – há registros de ursos-polares com até uma tonelada no começo do século XX e eles hoje já não ultrapassam 700 kg.5 Artigos envolvendo a questão estão endereçados pela etiqueta Gigantismo.
TRAÇANDO HORIZONTES
O simples fato de forçarem o Conhecimento Estabelecido a expandir a redoma que constrói ao redor de si mesmo já faz o estudo de fenômenos fortianos serem de grande valor à Ufologia. De fato, contudo, muitos desses fenômenos podem mesmo ter algum tipo de relação com Discos Voadores.
Em 1931 foi fundada na Inglaterra, por Theodore Dreiser e Tiffany Thayer, a Fortean Society, com o objetivo de divulgar as idéias de Fort. A sociedade se estiguiu em 1959, com a morte de Dreiser, e foi sucedida pela Fortean Times(Inglaterra) e pela International Fortean Organization (EUA), ambas em atividade.
Por Reno Martins