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sábado, 12 de maio de 2012

Argentina sofrerá retaliações por nacionalizar petroleira espanhola


Argentina sofrerá retaliações por nacionalizar petroleira espanhola

Cristina Kirchner expropriou 51% da YPF, maior empresado ramo de petróleo da Argentina, que pertencia a Repsol YPF

Argentina sofrerá retaliações por nacionalizar petroleira espanhola


“União Europeia vai boicotar a Argentina", diz especialista


A Argentina deverá sentir por muito tempo o impacto de seus planos de expropriar 51% da YPF, que era controlada pela espanhola Repsol YPF, medida que repercutiu de forma negativa pelo mundo, já que autoridades europeias, americanas e mexicanas criticaram a nacionalização. Cristina Kirchner alegou que a companhia precisava realizar mais investimentos para fazer frente à escassez energética do país sul-americano. Segundo Antônio Carlos Peixoto, cientista político da Uerj, a União Europeia (UE) vai aumentar a pressão em cima do governo portenho.
Governo Kirchner deve interferir no setor de distribuição de energia e gás
Governo Kirchner deve interferir no setor de distribuição de energia e gás
“A União Europeia vai boicotar as exportações argentinas. Eles devem frear os investimentos em direção a Buenos Aires” prevê o analista. Até o momento, Madri reduziu as importações de biocombustível à Argentina. Além disso, o Parlamento europeu pediu à Comissão Europeia que pense represálias para o país da América do Sul, como, por exemplo, a suspensão de benefícios comerciais.
Apesar das críticas, as expropriações tem caráter legai e a representação não deverá ocorrer na Organização Mundial do Comércio(OMC).
“A OMC está paralisada nos debates de negociação como o investimento estrangeiro. As discussões não avançaram. O que a Espanha pode buscar é uma indenização, podendo, inclusive, levar a questão para o tribunal internacional, mas não acredito. Acho que a crítica será mais diplomática”, analisa Alex Jobim, professor da Escola do Comando do Estado-Maior do Exército (Eceme).
Protecionismo Argentino
Nos últimos três anos, o regime protecionista da Argentina tem se intensificado, incentivados pela Ministra da Indústria e com o apoio de organizações, porém desde o ano passado subiu a pressão na política de Cristina Kirchner com a queda do índice de superávit comercial,e com a finalidade de repor as reservas internacionais, em baixa pelo pagamento de dívidas públicas e fugas de capitais. De acordo com Hildete Pereira, professora de Economia da UFF, a crise tem expandido as práticas de protecionismo.
“A crise econômica está fazendo com que cada um olhe para o seu umbigo. A Argentina entende que precisa defender a indústria montada no país. A lógica é defender o território nacional”, diz o especialista.
Além disso, o cenário provável é a intervenção estatal no mercado argentino para o setor de distribuição de energia e gás.
Influências pela América Latina
Um dos pontos mais críticos da disputa é a influência da tendência de expropriação se arrastar na região. No feriado do dia do trabalho, o presidente da Bolívia, Evo Morales, nacionalizou a empresa de eletricidade com capital espanhol TDE (Transportadora de Eletricidade S.A.), gerida pela Rede Elétrica Internacional, filial do Grupo REE (Rede Elétrica da Espanha), quando emitiu um decreto para assumir o controle de 100% das ações da companhia.  Alex Jobim acredita em uma esfera de influência limitada, e não deve se espalhar pela região.
“Vários governos da América Latina são nacionalista - Argentina, Venezuela, Bolívia e Equador - e um dos efeitos dessas políticas é o protecionismo. O que pode influenciar é o regime de contágio entre eles”, afirma.
Brasil prejudicado no comércio
O Brasil também sofre restrição com a política protecionista, devido ao regime de licenças de importação imposto pela presidente Kirchner, uma vez que o importador argentino faz uma lista prévia ao governo do país solicitando o que quer comprar. O poder público autoriza ou não e ainda define a quantidade de produtos. Calçados, roupas, automóveis ou autopeças todos os setores são atingidos. O governo brasileiro apresenta contra-ataca. Entretanto, apesar das medidas tomadas pelo governo Dilma contra a posição do estado vizinho, Buenos Aires não deve ter mudança de postura.
Segundo União Europeia, Dilma Rousseff está intensificando as medidas de proteção
Segundo União Europeia, Dilma Rousseff está intensificando as medidas de proteção
“O Brasil vem tomando medidas de reciprocidade e retaliação contra o regime de licenças da Argentina. No entanto, a essência da política argentina não vai mudar, ou seja, eles vão proteger as indústrias deles” ressalta o professor Jobim.  
A expectativa do Parlamento Europeu era que o principal poder econômico da América Sul, desse apoio às críticas formais da UE e condenasse o regime de Buenos Aires, devido aos atos impostos de licenças, mas o governo Rousseff adotou uma postura mais cautelosa.
“Não interessa ao Brasil criticar a Argentina pelo histórico das relações. A Espanha expressou críticas formais porque tem muito pouco a perder politicamente”, explica o analista do Eceme.
Segundo a UE, o Brasil também vem adotando políticas de restrição ao comércio, como taxação discriminatória na importação de carros, exigência de conteúdo local em telecomunicações, e mais procedimentos complicados para o setor de têxteis.  Assim alguns analistas acreditam que os governos do PT têm caráter de maior proteção aos bens nacionais.
“O governo Lula começou com a adotar algumas medidas protecionistas e a Dilma está intensificando as medidas devido à crise internacional. Essas medidas estão acontecendo devido a um contexto internacional: menor balança comercial, câmbio real desfavorável e a China mais competitiva, isto é, importando produtos com maior valor de mercado, já o Brasil, importando commodities”, conclui Jobim. 
Fonte:JB/Apuração: Rômulo Diego Moreira