Diante de milhares de fiéis, papa Bento XVI faz a última audiência pública no Vaticano
O papa Bento XVI entrou nesta quarta-feira (27/2) na Praça de São Pedro para presidir uma audiência histórica diante de milhares de fiéis e personalidades de todos os continentes, que homenagearão o primeiro papa que renuncia em sete séculos de história. Mais de 100.000 pessoas, incluindo muitos cardeais, bispos e personalidades, acompanharam a última bênção de quarta-feira, a de número 348 de seu pontificado, iniciado em abril de 2005.
"Amar a Igreja também significa a coragem de fazer escolhas difíceis", disse Bento XVI |
Aclamado pela multidão, o Papa percorreu lentamente a praça, a bordo do papamóvel e a pé, e beijou duas crianças. Bento XVI, que dedicou boa parte dos últimos dias de pontificado às orações e meditação, segundo o porta-voz do Vaticano, pronunciou, em seguida as últimas palavras públicas aos fiéis. “Agradeço por estarem presentes tão númerosos neste dia”, disse o papa, ao relatar a comoção com o momento do último pronunciamento à comunidade católica. “Como o apóstolo Paulo, eu também sinto em meu coração que preciso agradecer a Deus”.
O texto, lido pelo papa em diversas línguas, também expressou a gratidão pela ajuda recebida por todo o clero e pelos fiéis. Ele agradeceu a todas as pessoas que, nas últimas semanas, enviaram sinais de comoção e de fé. “O papa pertence a todos e muitas pessoas se sentem próximas a eles”, justificou. Bento XVI ressaltou que recebe cartas dos “grandes do mundo”, mas que recebe também muitas cartas de pessoas simples, “que escrevem a partir do coração”. “Essas pessoas não escrevem para príncipes, autoridades (...). Escrevem como irmão, irmãs, filhos e filhas. Pode se tocar com a mão o que é a Igreja”, destacou.
Na chegada à praça de São Pedro, o papa foi aclamado pelos fiéis |
Ouvido com atenção pelos fiéis, o pontífice revelou que deu o passo da renúncia “com profunda serenidade de espírito”, e que a decisão tomada foi a mais correta, não para o bem dele, mas para o bem da Igreja. “Sou consciente da gravidade e novidade de minha renúncia. (...) Amar a Igreja também significa a coragem de fazer escolhas difíceis”. Disse que em oito anos viveu momentos de alegria e também momentos difíceis, mas ressaltou que a caminhada foi acompanhada por todo o clero. “Um papa não está sozinho na condução da barca de Pedro". Terminou o discurso dizendo que continuará acompanhando o caminho da Igreja com o coração e com orações. “Peço que me lembrem diante de Deus e que orem pelos cardeais, chamados a uma tarefa tão relevante, e pelo sucessor do apóstolo Pedro”. Em seguida, o papa foi fortemente aplaudido pelo público e pelos cardeais, que aparentavam grande emoção.
Peregrinos brasileiros também participaram da audiência |
Nesta quinta-feira (28/2), Bento XVI se encontrará com cardeais, muitos dos quais apontados como possíveis sucessores. Às 17h (13h de Brasília), ele deixará o Vaticano e voará em um helicóptero para a casa de verão da Santa Sé, uma viagem de cerca de 15 minutos. Lá, aparecerá na janela para saudar a população local, no que deve ser sua última aparição em público.
O alemão Joseph Ratzinger, seu nome civil, de 85 anos, causou espanto ao anunciar a renúncia, em 11 de fevereiro, alegando falta de "forças para seguir adiante de uma igreja de 1,2 bilhão de fiéis, que enfrentou umas série de escândalos nos últimos anos.
Por Jacqueline Saraiva
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