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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Disputa de poder e corrupção podem estar por trás da renúncia de Bento XVI


Especialistas ouvidos pelo Correio alertam para brigas de poder e profundos embates entre conservadores e liberais no interior do clero
Cadeiras dispostas na Praça de São Pedro: para especialistas, o Concílio Vaticano II, realizado na década 
de 1960, originou visões distintas sobre os rumos a serem tomados pela Igreja (Gregorio Borgia/AP - 14/10/03)
Cadeiras dispostas na Praça de São Pedro: para especialistas, o Concílio Vaticano II, realizado na década de 1960, originou visões distintas sobre os rumos a serem tomados pela Igreja

Além de abalarem os pilares de uma instituição milenar — que concentra 1,2 bilhão de seguidores —, a disputa pelo poder, as denúncias de corrupção, os escândalos e as divergências em torno da própria doutrina deram pistas sobre os motivos por trás da primeira renúncia de um pontífice em seis séculos. Para o vaticanista italiano Marco Tosatti, jornalista do diário La Stampa (Turim), as rivalidades denunciadas pelo próprio papa Bento XVI acompanham a história de toda a Igreja Católica, e não apenas da Cúria Romana. “Essas divergências ocorrem entre os bispos e os padres, entre os próprios sacerdotes, entre o clero e o povo leigo. E sempre será assim, pois isso faz parte da natureza humana”, afirma. “O papa acompanha tudo e emite um alerta: quando as escaramuças se tornam excessivas, a própria Igreja sofre.” Na semana passada, depois de anunciar sua decisão, o pontífice criticou a “hipocrisia religiosa” e pediu uma “verdadeira renovação da Igreja”.


O caso VatiLeaks — vazamento de documentos pessoais de Bento XVI pelo mordomo Paolo Gabriele — expôs algumas das divisões do clero. Uma corrente de pensamento na Santa Sé defende que o crime teria sido obra de uma facção incomodada com o acúmulo de poder do cardeal Tarcisio Bertone à frente da Secretaria de Estado do Vaticano. “Em um dos dossiês, o arcebispo Carlo Maria Viganò pedia ao papa para que o mantivesse à frente da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano, a fim de que pusesse fim à incompetência financeira e à corrupção”, lembra o padre jesuíta norte-americano Thomas J. Reese, autor de O Vaticano por dentro: a política e a organização da Igreja Católica. “Não eram disputas sobre teologia, mas de personalidade e de poder.”


Por Rodrigo Craveiro