A biodiversidade mundial está em risco, e relatórios elaborados por organizações não governamentais e centros de pesquisa indicam, anualmente, uma redução preocupante no número de espécies de plantas, insetos e vertebrados. A natureza, porém, ainda esconde tesouros, descobertos ao acaso ou em expedições acadêmicas. O mapeamento mais recente do Instituto Internacional para Exploração de Espécies, da Universidade do Arizona, registra nada menos que 19.232 espécies encontradas em 2009, ano-base do documento de 2011. Um número que tende a aumentar, já que descobertas têm sido feitas com frequência.
Comparando-se ao relatório anterior, houve um aumento de 5,6% na identificação de novas espécies, com a inclusão de 9.738 insetos, 2.184 plantas e 41 mamíferos (veja quadro), entre outros. Com isso, o total de tipos de seres vivos existentes no planeta, classificados desde 1758, subiu para quase 2 milhões, número que vai quintuplicar, na opinião de Quentin Wheeler, entomologista da Universidade do Arizona. “Tudo leva a crer que ainda falta identificar pelo menos 10 milhões de espécies, incluindo plantas e animais”, afirma. Para quem acha muito, Wheeler lembra que, só no hábitat marinho, calcula-se que existam 20 milhões de espécies.
“A descoberta e a descrição de novas espécies não são importantes apenas para o estudo científico, mas essenciais na elaboração de políticas públicas que visem à conservação ambiental”, observa Terrence Gosliner, decano de Coleções Científicas da Academia de Ciências da Califórnia e líder de uma expedição realizada, no ano passado, às Filipinas. No continente asiático, os pesquisadores têm encontrado um verdadeiro paraíso de novas espécies. “Em lugares como as Filipinas, acreditamos que estejam escondidos os maiores tesouros, porque são regiões com florestas tropicais, montanhas altas, recifes de corais”, justifica Gosliner. O trabalho da Academia de Ciências da Califórnia, no ano passado, acrescentou 140 espécies ao catálogo.
Se os pesquisadores estão animados com as descobertas, eles também alertam que muitas podem desaparecer sem ter sido conhecidas. A União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) divulga, todos os anos, a lista vermelha das espécies, indicando as extintas, em risco e ameaçadas. “O mundo está cheio de espécies maravilhosas que rapidamente se tornarão mitos ou lendas se esforços para a conservação não forem implementados com sucesso. Se não agirmos agora, gerações futuras podem não saber a aparência de alguns animais que conhecemos hoje”, alerta, em um comunicado, Jean-Christophe Vié, vice-diretor do Programa Global de Espécies da IUCN.
LineuNaquele ano, o botânico sueco Carlos Lineu publicou o livro Systema naturae, propondo o moderno sistema de nomes e classificações de plantas e animais. Ele dividiu a natureza nos reinos Animalia, Vegetalia e Mineralia, o que se mantém até hoje.
Galeria
Homenagem a BeyoncéEssa mutuca foi descoberta no nordeste da Austrália por Byran Lessard, cientista da Coleção Nacional de Inseto Australiana e pesquisador que a descreveu. A nova espécie foi batizada de Scaptia (Plinthina) beyonceae, em homenagem à cantora americana Beyoncé. De acordo com Lessardk, um dos aspectos mais divertidos da taxonomia é justamente dar nome às descobertas. Nesse caso, a diva pop serviu de inspiração porque a mutuca “tem uma cor dourada tão espetacular que isso faz dela a ‘maior diva das moscas de todos os tempos’”, segundo definiu o cientista, que publicou sua descoberta no Australian Journal of Entomology. “Quase 4,4 mil espécies de mutucas já foram descritas em todas as regiões do mundo”, contou, ao periódico.
Lagarto psicodélico Seres de sangue frio, os lagartos correm risco de extinção por causa do aquecimento global, segundo alguns estudos. Mas a descoberta de novas espécies dá esperança de que os parentes dos dinossauros sobrevivam à onda de calor. Nos últimos cinco anos, foram 16 descrições, e uma delas é a espécie Cnemaspis psychedelica, encontrada no Vietnã. Colorido de laranja, amarelo, azul, preto e verde, recebeu, merecidamente, o nome de “psicodélico”. “A pergunta que mais me intriga sobre essa espécie é por que ela tem um padrão de cor tão brilhante, contrastante e incongruente?”, questiona L. Lee Grismer, biólogo da Universidade da Califórnia e um dos descobridores do lagarto. “Infelizmente, por enquanto só temos especulações.”
Pequeno e únicoO pequenino Phylloscopus calciatilis foi apresentado pela organização não governamental WWF e é proveniente do Laos e do Vietnã. De acordo com Per Alström, biólogo do Centro de Informações de Espécies da Suécia, que o descreveu, o pássaro tem um canto muito particular, diferente de qualquer outro. Graças a essa característica, foi possível identificá-lo como uma nova espécie, embora ele se pareça muito com outros pássaros que vivem na região. Em média, uma nova espécie é descoberta a cada dois dias na região do Delta do Mekong, mas a WWF adverte que algumas delas podem desaparecer antes mesmo de serem identificadas, por causa de ações depredatórias no sudeste asiático.
Lagarta independenteTambém proveniente do Delta do Mekong, a lagarta Leiolepis ngovantrii, aparentemente, é igual a qualquer outra. Ela possui, porém, uma característica singular: não precisa de um macho para reproduzir. A lagarta independente — só há fêmeas na espécie — faz um clone dela mesma, tornando-se a única entre os Leiolepis que se reproduzem pela partenogênese. Segundo os cientistas que a descreveram, além da falta de diversidade genética, a gula de alguns vietnamitas pode colocar a nova espécie em risco. Isso porque a Leiolepis ngovantrii é um prato bastante apreciado no Vietnã — os primeiros espécimes que seriam analisados pelo biólogo L. Lee Grisme, inclusive, foram parar na panela antes que ele pudesse estudar a descoberta.
Enguia ancestral A estranha enguia estava a 35m da superfície, em uma caverna habitada por corais, quando foi descoberta na República do Palau, no Pacífico. A Protoanguilla palau foi considerada um “fóssil vivo” porque seu último ancestral tem nada menos que 200 milhões de anos, uma época em que nem sequer existiam os dinossauros. Daí o nome da nova espécie — proto quer dizer primeiro. Segundo Dave Johnson, especialista do Instituto Smithsonian, que a descreveu, a enguia foi a descoberta mais inusitada da história, comparando-se apenas com um peixe encontrado em 1930, que era considerado extinto há 70 milhões de anos.
Miniatura de tubarão Das 140 espécies descobertas, no ano passado, pela Academia de Ciências da Califórnia, quatro são tubarões, incluindo um “anão”. O Pristiophorus nancyae foi encontrado na costa de Moçambique enquanto se preparava para mais uma refeição. Em um padrão bastante particular, ele nada entre os cardumes, esticando o focinho e ferindo os peixes. Depois, passa à frente, dá meia volta e consome as presas. Nas Filipinas, a mesma equipe de pesquisadores descobriu outros três tubarões, sendo que dois deles emitem luzes em várias partes do corpo, como uma forma de camuflagem. Uma espécie, descoberta também nas Filipinas, tem o corpo achatado e nadadeiras que parecem aves.
Comparando-se ao relatório anterior, houve um aumento de 5,6% na identificação de novas espécies, com a inclusão de 9.738 insetos, 2.184 plantas e 41 mamíferos (veja quadro), entre outros. Com isso, o total de tipos de seres vivos existentes no planeta, classificados desde 1758, subiu para quase 2 milhões, número que vai quintuplicar, na opinião de Quentin Wheeler, entomologista da Universidade do Arizona. “Tudo leva a crer que ainda falta identificar pelo menos 10 milhões de espécies, incluindo plantas e animais”, afirma. Para quem acha muito, Wheeler lembra que, só no hábitat marinho, calcula-se que existam 20 milhões de espécies.
“A descoberta e a descrição de novas espécies não são importantes apenas para o estudo científico, mas essenciais na elaboração de políticas públicas que visem à conservação ambiental”, observa Terrence Gosliner, decano de Coleções Científicas da Academia de Ciências da Califórnia e líder de uma expedição realizada, no ano passado, às Filipinas. No continente asiático, os pesquisadores têm encontrado um verdadeiro paraíso de novas espécies. “Em lugares como as Filipinas, acreditamos que estejam escondidos os maiores tesouros, porque são regiões com florestas tropicais, montanhas altas, recifes de corais”, justifica Gosliner. O trabalho da Academia de Ciências da Califórnia, no ano passado, acrescentou 140 espécies ao catálogo.
Se os pesquisadores estão animados com as descobertas, eles também alertam que muitas podem desaparecer sem ter sido conhecidas. A União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) divulga, todos os anos, a lista vermelha das espécies, indicando as extintas, em risco e ameaçadas. “O mundo está cheio de espécies maravilhosas que rapidamente se tornarão mitos ou lendas se esforços para a conservação não forem implementados com sucesso. Se não agirmos agora, gerações futuras podem não saber a aparência de alguns animais que conhecemos hoje”, alerta, em um comunicado, Jean-Christophe Vié, vice-diretor do Programa Global de Espécies da IUCN.
LineuNaquele ano, o botânico sueco Carlos Lineu publicou o livro Systema naturae, propondo o moderno sistema de nomes e classificações de plantas e animais. Ele dividiu a natureza nos reinos Animalia, Vegetalia e Mineralia, o que se mantém até hoje.
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Homenagem a BeyoncéEssa mutuca foi descoberta no nordeste da Austrália por Byran Lessard, cientista da Coleção Nacional de Inseto Australiana e pesquisador que a descreveu. A nova espécie foi batizada de Scaptia (Plinthina) beyonceae, em homenagem à cantora americana Beyoncé. De acordo com Lessardk, um dos aspectos mais divertidos da taxonomia é justamente dar nome às descobertas. Nesse caso, a diva pop serviu de inspiração porque a mutuca “tem uma cor dourada tão espetacular que isso faz dela a ‘maior diva das moscas de todos os tempos’”, segundo definiu o cientista, que publicou sua descoberta no Australian Journal of Entomology. “Quase 4,4 mil espécies de mutucas já foram descritas em todas as regiões do mundo”, contou, ao periódico.
Lagarto psicodélico Seres de sangue frio, os lagartos correm risco de extinção por causa do aquecimento global, segundo alguns estudos. Mas a descoberta de novas espécies dá esperança de que os parentes dos dinossauros sobrevivam à onda de calor. Nos últimos cinco anos, foram 16 descrições, e uma delas é a espécie Cnemaspis psychedelica, encontrada no Vietnã. Colorido de laranja, amarelo, azul, preto e verde, recebeu, merecidamente, o nome de “psicodélico”. “A pergunta que mais me intriga sobre essa espécie é por que ela tem um padrão de cor tão brilhante, contrastante e incongruente?”, questiona L. Lee Grismer, biólogo da Universidade da Califórnia e um dos descobridores do lagarto. “Infelizmente, por enquanto só temos especulações.”
Pequeno e únicoO pequenino Phylloscopus calciatilis foi apresentado pela organização não governamental WWF e é proveniente do Laos e do Vietnã. De acordo com Per Alström, biólogo do Centro de Informações de Espécies da Suécia, que o descreveu, o pássaro tem um canto muito particular, diferente de qualquer outro. Graças a essa característica, foi possível identificá-lo como uma nova espécie, embora ele se pareça muito com outros pássaros que vivem na região. Em média, uma nova espécie é descoberta a cada dois dias na região do Delta do Mekong, mas a WWF adverte que algumas delas podem desaparecer antes mesmo de serem identificadas, por causa de ações depredatórias no sudeste asiático.
Lagarta independenteTambém proveniente do Delta do Mekong, a lagarta Leiolepis ngovantrii, aparentemente, é igual a qualquer outra. Ela possui, porém, uma característica singular: não precisa de um macho para reproduzir. A lagarta independente — só há fêmeas na espécie — faz um clone dela mesma, tornando-se a única entre os Leiolepis que se reproduzem pela partenogênese. Segundo os cientistas que a descreveram, além da falta de diversidade genética, a gula de alguns vietnamitas pode colocar a nova espécie em risco. Isso porque a Leiolepis ngovantrii é um prato bastante apreciado no Vietnã — os primeiros espécimes que seriam analisados pelo biólogo L. Lee Grisme, inclusive, foram parar na panela antes que ele pudesse estudar a descoberta.
Enguia ancestral A estranha enguia estava a 35m da superfície, em uma caverna habitada por corais, quando foi descoberta na República do Palau, no Pacífico. A Protoanguilla palau foi considerada um “fóssil vivo” porque seu último ancestral tem nada menos que 200 milhões de anos, uma época em que nem sequer existiam os dinossauros. Daí o nome da nova espécie — proto quer dizer primeiro. Segundo Dave Johnson, especialista do Instituto Smithsonian, que a descreveu, a enguia foi a descoberta mais inusitada da história, comparando-se apenas com um peixe encontrado em 1930, que era considerado extinto há 70 milhões de anos.
Miniatura de tubarão Das 140 espécies descobertas, no ano passado, pela Academia de Ciências da Califórnia, quatro são tubarões, incluindo um “anão”. O Pristiophorus nancyae foi encontrado na costa de Moçambique enquanto se preparava para mais uma refeição. Em um padrão bastante particular, ele nada entre os cardumes, esticando o focinho e ferindo os peixes. Depois, passa à frente, dá meia volta e consome as presas. Nas Filipinas, a mesma equipe de pesquisadores descobriu outros três tubarões, sendo que dois deles emitem luzes em várias partes do corpo, como uma forma de camuflagem. Uma espécie, descoberta também nas Filipinas, tem o corpo achatado e nadadeiras que parecem aves.
Fonte:Paloma Oliveto -CB