O cenário vivido agora, no entanto, é diferente daquele, apesar da possibilidade de aproximação entre os dois. Como reforçou Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/Ibre), a população ocupada no país tem crescido, aquém do mesmo período do ano passado, mas tem crescido. "Os jovens estão participando menos do mercado de trabalho. A população ocupada está crescendo muito pouco", disse. Pesquisa anunciada pelo IBGE nesta segunda-feira (18/11) mostra crescimento de emprego nas indústrias. O ritmo da criação de empregos em 2012 apresentou uma queda, mas ainda assim com crescimento de 1,3 milhão. Neste ano, até agosto, já foram criados um milhão de novos postos.
A maior parte da criação de novas vagas, no entanto, é em postos de trabalho que exigem baixa qualificação, o que gera alguns aspectos negativos, mas que não anulam os benefícios desse movimento, acredita Simonard. "Com essa nova distribuição de renda, com o surgimento dessa nova classe média, e a participação de uma parcela tão grande da população no mercado de serviços, o comércio se expandiu, muito mais do que a indústria. O grande absorvedor de mão de obra é o setor de serviço", comentou Simonard.
Se o movimento de criação de empregos no setor de serviços vai continuar crescendo, Simonard acredita que vai depender da continuidade do processo de distribuição de renda, que continua, acredita, apesar da redução na intensidade. Ele destaca que esses investimentos devem continuar ainda por alguns anos. "No Brasil, o corte de gasto público sempre foi uma coisa muito difícil, principalmente em ano eleitoral."
"Um efeito ruim, é que isso baixa a produtividade da economia. A inclusão é muito positiva, mas, quanto mais gente trabalhando, menor a produtividade, em boa medida, por causa desse aumento no número de empregos. A conta é muito simples: se o número de trabalhadores aumenta, a produtividade cai. Mas tem o lado positivo da inclusão", argumenta.
Heron do Carmo, economista e professor da Universidade de São Paulo, enfatiza que os dados atuais da economia brasileira são parecidos com os anos anteriores, apesar de ressaltar a preocupação do mercado com a piora dos fundamentos, com dificuldade de cumprir o superávit primário e o crescente déficit em transações correntes.
"A economia está crescendo. Existe a questão do aumento da participação do setor de serviços, que absorve muita mão de obra, e ainda a questão demográfica. Vale ressaltar também a inserção no sistema educacional, isso tudo faz com que a taxa de desemprego se mantenha baixa. Mas se as condições, em termos de fundamentos da economia, se deteriorarem, vão acabar afetando o emprego. Mas, por agora, nada indica que ocorra alguma alteração mais significativa no emprego. O desemprego pode até aumentar um pouco, mas nada significativo", acredita Heron.
O economista salienta que a dívida líquida brasileira não é elevada, comparada aos padrões internacionais, mas que, se o problema "não for atacado", problemas maiores podem surgir. As dificuldades impostas pelo ano eleitoral, então, com a dificuldade do governo adotar compromissos mais duros, motiva esse pessimismo em relação à economia brasileira. Heron ressalta ainda que a situação brasileira é vista com mais pessimismo pelos brasileiros do que por analistas do exterior.
"Olhando os números, você não vê muita diferença em relação aos anos anteriores. O fundamento externo, a questão fiscal, importantes para ancorar o crescimento com estabilidade a médio e longo prazo, vem causando esse desalento, principalmente por agentes no país. Mas esse desalento tem relação com fato de que o governo demorou muito para tomar algumas medidas, e tomou algumas medidas equivocadas, como a contabilidade criativa, e agora precisa voltar a defender aqueles princípios que balizaram o governo no seu início", sugere.
JB
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