Antes de se entusiasmar com o Plano Crack para 2012, que consiste num conjunto de ações do governo federal para o enfrentamento do crack e outras drogas anunciado pela presidente Dilma Rousseff no começo de dezembro (para serem viabilizadas até 2014), num investimento total de R$ 4 bilhões, Sorocaba ainda aguarda o financiamento das ações anunciadas em 2010, entre elas o Caps AD 3 e a Casa de Acolhimento Transitório, que inclusive está pronta, apenas esperando a verba. A informação é da secretária da Juventude, Edith Di Giorgi, responsável pela coordenação da política municipal de combate às drogas.
O Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas (Caps AD) já existe em Sorocaba. São duas unidades, uma para jovens e outra para adultos, porém o Caps AD 3 teria como diferencial o funcionamento durante 24 horas. Já a Casa de Acolhimento Transitório serviria de abrigo para aqueles que estão nas ruas ou não podem ficar em suas casas. Outro projeto para o qual o município se inscreveu e foi aprovado no ano passado é o da criação do Centro de Referência na Educação (CRE), voltado para a formação de profissionais multiplicadores no combate à dependência química. "Esse projeto, em parceria com a Ufscar, recebeu verba somente agora, no final do ano. Acho válido que o governo federal esteja investindo na questão das drogas, mas o problema é que os recursos são prometidos e não chegam", lamenta a secretária.
Conforme ela, em Sorocaba o trabalho tem sido desenvolvido dentro dos pressupostos da política nacional. "São propostas que vieram ao encontro do que queríamos desenvolver na cidade, mas se o dinheiro não vem, a política fica manca. A gente acaba tendo de tirar de outras ações programadas, afinal essa ausência do repasse não nos tira a responsabilidade de agir", diz. Ainda de acordo com Edith, o que o governo fez recentemente foi relançar o programa de 2010, porém incluindo algumas novidades, entre elas o financiamento de vagas nas comunidades terapêuticas e um manual de orientação para instalação e funcionamento dessas entidades. "Uma das ações que está sendo divulgada como nova, mas já existia, inclusive prevista em lei, é a questão da internação involuntária, quando a pessoa já não é capaz de decidir por si mesma, e a compulsória, que é quando o juiz determina. Nossa briga é que ela teria de ser decidida pelo médico e não pelo juiz", afirma, acrescentando que o edital de chamamento para as internações deve sair nos próximos dias. "A diferença é que antes a internação era em hospital psiquiátrico e agora pode ser em um hospital geral", diz.
O consultório de rua, que Sorocaba implantou este ano, é uma das propostas anteriores e que volta novamente para o conjunto prioritário de ações do governo federal. Edith explica que a verba do consultório de rua é de R$ 150 mil por ano, valor insuficiente para todos os custos, desde o pagamento da equipe, os encargos trabalhistas e até o transporte. "Conseguimos dois carros, um para o consultório e outro para as tendas de escuta e a Prefeitura ainda cede o combustível, então os programas do governo são ótimos, mas seria bom se o financiamento realmente cobrisse todas as despesas, porque a verdade é que a Prefeitura tem de arcar com muita coisa", observa.
Investimento
A Secretaria Municipal da Juventude investiu em 2011 cerca de R$ 800 mil nas ações de combate às drogas, valor destinado para custear despesas de orientação e tratamento a homens até 24 anos e mulheres de qualquer idade. "Em 2012 irá passar de R$ 1 milhão", afirma Edith. Também a Secretaria da Saúde (SES) aplicou neste ano aproximadamente R$ 850 mil nos dois Caps AD. Os investimentos fazem parte da Política Municipal Sobre Drogas - Programa "Entre Nós", baseado na proposta do tratamento comunitário e na interação das redes e serviços existentes no município. "Aqui na cidade as ações são integradas entre as diversas secretarias, como a da Saúde, Cidadania, Esporte e Cultura, e envolvem toda uma rede de acolhimento", esclarece Edith. "Entendemos que a droga está suprindo uma falta, que a pessoa foi usar droga porque não conseguiu se integrar, nada dava prazer, por isso desenvolvemos uma ação em conjunto, com a finalidade de envolver o usuário com outras coisas", diz.
A psiquiatra especialista em dependência química Maria Clara Schnaidman Suarez, presidente do Conselho Municipal sobre Drogas (Comad) e Coordenadora Municipal de Saúde Mental acrescenta que o município vem investindo nessa área crítica há muito tempo e agora é que se está enxergando, em âmbito nacional, a gravidade da situação. "Se o governo federal tivesse lançado essas ações há cinco, dez anos, a situação não estaria como hoje", acredita.
Maria Clara afirma que o crack é uma droga prejudicial assim como outras drogas são, mas muito mais grave é o álcool, que continua sendo a droga mais perigosa. "O que acontece é que o crack causa dependência mais rápido. Mas existem mais usuários de álcool do que de crack, porém devido à devastação do crack as autoridades resolveram investir nisso. Tudo o que for para ajudar, o governo está apoiando". A psiquiatra elogia a iniciativa do governo de financiar as comunidades terapêuticas e ressalta que o município já tem parceria com algumas delas. "O governo está incentivando o financiamento para que se tenha mais uma possibilidade de tratamento, quem trabalha com isso sabe que é necessário, já que as vagas públicas são raríssimas".
Fonte:Daniela Jacinto