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sábado, 7 de janeiro de 2012

Menina de menos de 2 anos teve a vida salva por um transplante de coração



Uma menina de apenas um ano e oito meses, que sofria de graves problemas cardíacos, ganhou ontem uma nova esperança. A criança passou por um transplante de coração nas primeiras horas de sexta-feira, depois de permanecer mais de seis meses internada. A cirurgia, realizada no Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (antigo Incor), representa um recomeço para o bebê e sua família. Com o novo coração, a menina poderá deixar para trás a dolorosa rotina hospitalar, que incluía exames quase diários e uma série de restrições. Para conseguir salvar a vida da criança, uma equipe do Instituto de Cardiologia teve que ir até o Rio de Janeiro buscar o novo coração. O transplante terminou às 3h30 da madrugada, após uma maratona que envolveu mais de 10 profissionais. Esse foi o quinto transplante pediátrico de coração realizado no Distrito Federal.

O bebê, que não teve o nome divulgado pelo hospital a pedido da família, sofria de uma doença conhecida como cardiomiopatia dilatada, que comprometeu o ventrículo esquerdo do coração. Por conta do problema, o órgão da garotinha tinha três vezes o tamanho normal e não bombeava mais o sangue para o corpo. Há 40 dias, a doença se agravou e a menina entrou na fila de espera por um transplante. Segundo os médicos, a cirurgia seria a única esperança de vida para o bebê. 

A apreensão dos pais era grande: a criança é filha única de um casal jovem e de origem simples. No momento da cirurgia, os pais e avós da paciente esperavam no quarto, ansiosos pela boa notícia que viria no meio da madrugada: o transplante foi um sucesso. Segundo os médicos que participaram do procedimento, a menina reagiu muito bem à operação. Mas ela terá de ficar internada pelo menos durante um mês, com a previsão inicial de 10 dias na unidade de terapia intensiva e mais 20 dias na enfermaria.

A coordenadora de Transplante Cardíaco Pediátrico do Instituto de Cardiologia do DF, Cristina Afiune, explica que, nesse período, a pequena paciente vai receber remédios para evitar a rejeição do órgão. “Além disso, ela terá que tomar essa medicação pelo resto da vida. A menina também deverá fazer consultas semanais nos três primeiros meses.” Segundo a médica, as crianças permanecem com coração transplantado por uma média de 10 anos. Depois desse prazo, é possível que ela volte para a fila do transplante, para receber um outro órgão. “Mas temos expectativas de que nos próximos anos surjam novos remédios que controlem a rejeição e deem ao coração uma sobrevida maior”, acrescentou a especialista.

Viagem
A mobilização para salvar a vida da paciente começou às 8h da última quinta-feira, quando os médicos do Instituto de Cardiologia receberam a informação de que havia um doador no Rio de Janeiro, com morte cerebral. O garotinho de 1 ano e nove meses sofria de hemofilia e havia sido vítima de um sangramento intracraniano. Os médicos do Hospital de Clínicas de Niterói mantiveram o paciente ligado a máquinas, para preservar o coração. Às 16h30, dois cirurgiões, uma enfermeira e uma perfusionista, responsável pela manutenção do órgão, embarcaram na Base Aérea de Brasília, com apoio da Força Aérea Brasileira. Desembarcaram no Rio de Janeiro 90 minutos depois e seguiram direto para Niterói. Às 21h50, o coração do menino foi retirado e a equipe voltou às pressas para a capital federal. 

O supervisor da Cirurgia Cardiovascular do instituto, Fernando Atik, é um dos médicos que viajaram até o Rio de Janeiro para buscar o órgão do doador. Ele também participou do transplante realizado em Brasília. “Colocamos o coração em um frasco com soro gelado e repleto de gelo. Injetamos uma substância para preservar o órgão por pelo menos quatro horas, que é o prazo máximo de espera antes de fazermos o transplante”, explicou Atik. Enquanto a equipe do Instituto de Cardiologia voava em direção à capital, os médicos iniciaram a cirurgia, anestesiando a menina e abrindo seu tórax. Quando o coração desembarcou na sala de operação, tudo estava pronto para o momento do transplante, que durou quase quatro horas.

Fernando Atik se emocionou ao falar da cirurgia e revelou a alegria da equipe no momento crucial do procedimento. “Quando o coração volta a bater, é muito emocionante”, contou o cirurgião, com os olhos cheios de lágrimas. Durante a cirurgia, os pacientes ficam ligados a uma máquina que funciona como um coração artificial e que bombeia o sangue, enquanto os profissionais trocam o antigo órgão pelo novo.


Convênio com o SUS
O Instituto de Cardiologia do DF é gerido pela Fundação Universitária 
de Cardiologia, do Rio Grande do Sul, desde março de 2009. A entidade substituiu a Fundação Zerbini, que deixou a gestão do antigo Instituto do Coração (Incor) poucos meses antes. O instituto funciona dentro do Hospital das Forças Armadas, graças a um convênio com o Ministério das Forças Armadas, e atende pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
No DF, uma exceção
Desde 2007, quando foi realizada a primeira cirurgia de transplante cardíaco no Distrito Federal, 25 pacientes já receberam um novo coração. A captação de órgãos fora de Brasília é uma exceção e representa apenas quatro casos entre as operações realizadas até agora. A expectativa das equipes do Instituto de Cardiologia é ampliar esse número em 2012. No ano passado, as equipes fizeram 10 transplantes, e a meta é bater essa estatística até dezembro.

As cirurgias pediátricas são mais raras. Até hoje, apenas cinco crianças passaram por transplante cardíaco em Brasília. O primeiro caso foi registrado há dois anos. Uma garotinha de 1 ano e sete meses, que sofria da mesma doença da criança transplantada ontem, recebeu um coração novo poucos dias antes do Natal de 2009. Hoje, há quatro adultos e três crianças brasilienses na fila de espera por esse tipo de operação. 

O supervisor da Cirurgia Cardiovascular do Instituto de Cardiologia do DF, Fernando Atik, defende a realização de campanhas para aumentar o número de doadores. Para retirar os órgãos dos pacientes com morte cerebral, é preciso autorização de familiares. “O que mais atrapalha hoje é a capacidade limitada de doação e também a má qualidade dos doadores. Muitos chegam em condições inadequadas para captação de órgãos, ou porque estavam muito doentes, ou porque as equipes não tiveram o cuidado adequado”, comenta o especialista. “Muitos órgãos são perdidos entre o diagnóstico de morte cerebral e a captação”, acrescenta Atik.
Fonte:Helena Mader