O próprio serviço de tratamento de esgotos do município é um dos responsáveis pela poluição do manancial
Pastor em um dos trechos mais críticos de poluição, João Batista lembra do tempo em que o rio era límpido, ao invés do córrego escuro onde os peixes lutam pela vida. Foto: Eduardo Maia/DN/D.A Press |
Maria Cândido não come mais peixe do rio: é água de fezes. Foto: Eduardo Maia/DN/D.A Press |
Pelo menos em duas estações elevatórias as bombas não estão funcionando. As lagoas de estabilização funcionam precariamente. Das três lagoas, uma está desativada, outra está assoreada e a terceira está funcionando com certa regularidade. Todas estão totalmente cobertas por mato e cheias de formigueiros. Não há sequer tratamento preliminar do esgoto. Faltam grades de contenção de sólido e comportas. Numa ponte que dá acesso à região das usinas, após a estação de trem, uma língua negra se formou. A poucos metros dali, um grupo de rapazes tomava banho. "Tá todo poluído", gritou um deles, antes de cair n'água sem receio.
Mesmo utilizandoa água do rio, a população também reclama do mau-cheiro e da poluição no manancial. Maria Cândido, 65 anos, há 34 anos utiliza a água de um olheiro próximo para lavar roupas. "As pessoas pescam e comem os peixes e piabas que comem esse esgoto. Eu não como mais nunca, principalmente depois que vi a seboseira. É água de fezes", afirma. Josimar da Silva, 34, lavador de carros, também relata a sujeira. "De longe se sente o fedor. Tem gente que come os peixes daí. Essas pessoas não têm medo de comer e pegar uma doença".
Ao redor da margem do rio, no local onde há um córrego de esgotos, o mato está escuro de tanta poluição na água. Bolhas se formam na lâmina d'água. São os peixes tentando sobreviver. João Batista Isidoro, 29, pastoreava gado próximo a um dos trechos mais críticos, na região de uma fazenda. "Antigamente esse rio era limpo. A gente via areia no fundo do rio. Hoje só se vê esgoto. Faz muito tempo que isso está acontecendo".
A dona de casa Maria das Graças Santos, 28 anos, há onze anos mora próximo auma boca de lobo que exala um "cheiro terrível à noite, inclusive de rato podre", segundo ela própria descreveu. "Daqui desce direto para o rio. Tanto o esgoto da cidade quanto da usina escorre dai abaixo", apontou. "Nem o gado pode beber água do rio".
Fonte: Sérgio Henrique DN