Brasília - O presidente do Democratas, senador Agripino Maia (DEM-RN), disse estar seguro de que os fatos que depõem contra o senador Demóstenes Torres "ficaram claríssimos". "Os fatos ficaram claríssimos, o senador Demóstenes Torres teve comportamentos anti-éticos", disse ele aos jornalistas assim que recebeu a carta de Demóstenes, comunicando desfiliação do partido.
Agripino: fatos contra Demóstenes são "claríssimos"
DEM diz não ter argumentos para pedir mandato de volta
Agripino Maia ressaltou ainda que o partido não tem argumentos para pedir também o mandato de senador de Demóstenes e que o futuro dele será decido pelo Conselho de Ética. "Não há infidelidade partidária, não se caracterizou, o partido não tem argumentos para acionar a Justiça pedindo o mandato", explicou. O presidente e líder do DEM no Senado evitou, no entanto, informar se o partido trabalhará contra o ex-colega dentro de um possível processo de cassação de mandato.
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Maia lamentou que Demóstenes, tendo sido conhecido pelo trabalho pautado em nome da ética e fala costumaz contra a corrupção na política, tenha obscurecido o seu passado: "O partido evidentemente durante muitos anos contou com o comportamento parlamentar (de Demóstenes) que o Brasil inteiro reconheceu, mas as denúncias apresentadas obscureceram o seu passado. Ficou insustentável".
O líder do DEM na Câmara dos Deputados, ACM Neto, rebateu o argumento dado por Demóstenes de que partido teria feito um pré-julgamento público: "a avaliação do partido é que aí consta uma futura defesa do senador para caso o Ministério Público questione sobre mandato ou algo assim. O partido não vai questionar, mas pode ser que um suplente, por exemplo, questione. Foi um argumento meramente jurídico", minimizou.
Demóstenes e Carlinhos Cachoeira
Em 6 de março de 2012, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) subiu à tribuna para dar explicações sobre as denúncias de sua proximidade com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, descoberta pela operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que terminou em fevereiro, com a prisão de Cachoeira e de outras 34 pessoas. Demóstenes disse que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido critérios legais. Dez dias depois, o jornal Folha de S.Paulo publicava um relatório do Ministério Público Federal (MPF) que indicava que o grupo comandado por Cachoeira entregou telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, que admitiu ter recebido o aparelho.
O jornal O Globo noticiou, em 23 de março, gravações da PF que flagraram Demóstenes pedindo para Cachoeira lhe pagar R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo e vazando informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes. Em 27 de março, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado para "acompanhar a evolução dos fatos". No dia seguinte, o Psol entrou com representação contra o parlamentar no Conselho de Ética do Senado e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandovski autorizou a quebra do sigilo bancário de Demóstenes, solicitando ainda um levantamento sobre as emendas e os projetos relatados por ele para saber se Cachoeira, acusado de controlar a máfia dos caça-níqueis e de corromper policiais e políticos em Goiás, foi beneficiado.
Nas gravações, Demóstenes também aparece acertando um suposto lobby pela legalização dos jogos de azar no Congresso em 2009. Em outra conversa, Cachoeira pede ajuda no processo de um delegado e três policiais de Anápolis (GO) acusados de tortura e extorsão. Os dois ainda conversaram sobre um "negócio" milionário na Infraero. Na ocasião, Demóstenes teria se valido da relatoria da CPI do Apagão Aéreo para levantar informações e sondar contratos de informática na estatal.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido decidiu abrir um processo que pode resultar na expulsão de Demóstenes. Conforme a nota, "houve desvio reiterado do programa partidário, principalmente no que diz respeito à ética".
Fonte:Elaine Lina /JB