A dois meses do aniversário de 30 anos da Guerra das Malvinas, o governo britânico emitiu ontem um novo sinal de endurecimento na disputa com a Argentina pela soberania sobre o arquipélago. O Ministério de Defesa de Londres informou que enviará às ilhas do Atlântico Sul um de seus navios de guerra mais modernos, o destróier HMS Dauntless. Em nota, o governo argentino acusou a Grã-Bretanha de "militarizar o conflito".
"A República Argentina rejeita a tentativa britânica de militarizar um conflito sobre o qual as Nações Unidas já decidiram, em diversas oportunidades, e indicaram que ambas as nações devem resolver a questão em negociações bilaterais", protestou o Ministério das Relações Exteriores de Buenos Aires em nota oficial. A mensagem diz que as ações britânicas têm o "objetivo de distrair a atenção pública das políticas econômicas de ajustes num contexto interno de crise estrutural e alto desemprego".
O governo de Cristina Kirchner também criticou a chegada do príncipe William ao arquipélago, onde o herdeiro do trono deverá passar por treinamento militar. Ele é copiloto de helicóptero do Exército britânico. "O povo argentino lamenta que o herdeiro real desembarque no solo pátrio com o uniforme do conquistador e não com a sabedoria de estadista que trabalha a serviço da paz e do diálogo entre as nações."
O navio da Marinha britânica vai substituir a fragata HMS Montrose, que patrulha as águas das Falklands - como os britânicos chamam as Malvinas. De acordo com o porta-voz da Marinha Real, Simon Smith, a troca já estava programada. "A Marinha tem mantido uma presença contínua no Atlântico Sul por vários anos e o envio do HMS Dauntless foi planejado tempos atrás", disse Smith à BBC. Segundo o porta-voz, trata-se de um "movimento de rotina".
A decisão de reforçar o poder naval no arquipélago disputado ocorre num momento especialmente delicado. Em dezembro, os países-membros do Mercosul concordaram em proibir que embarcações com a bandeira das Malvinas atraquem em portos sul-americanos. O Brasil promete levar a sério a medida.
"O governo britânico outorga uma grande importância ao aniversário dos 30 anos da guerra com a Argentina, no dia 2 de abril, e o envio do destróier é parte da decisão do Conselho de Defesa de fortalecer a defesa das ilhas", disse ao Estado o analista Jorge Castro, diretor do Instituto de Planejamento Estratégico de Buenos Aires.
"O Conselho de Defesa britânico já descartou a possibilidade de uma ação militar da Argentina, não só por falta de capacidade e logística, mas também porque não há intenção do governo argentino de partir para a guerra. O que estão dizendo com esse gesto é que o conflito está instalado", analisou Castro. Ele ponderou que o apoio do Mercosul à Argentina mudou o cenário de modo favorável aos argentinos, que tentam retomar o diálogo direto com o governo britânico sobre a posse do território.
A Grã-Bretanha rejeita negociar a soberania do arquipélago e afirma ser favorável à autodeterminação da população local, os kelpers - colonos britânicos trazidos no século 19.
Castro afirma que o apoio brasileiro é central para a Argentina. "A relação com o Brasil é uma prioridade do governo britânico e a mudança de posição brasileira sobre o acesso aos portos mostra que a Argentina tem aliados importantes", destacou.
No dia 18, em visita ao Brasil, o chanceler britânico, William Hague, reiterou a seu colega brasileiro, Antonio Patriota, que a posição britânica em relação à ilha não vai mudar.
A guerra entre Argentina e Grã-Bretanha pela posse das Malvinas teve início em 2 de abril de 1982 e terminou em 14 de junho do mesmo ano, com o saldo de 255 militares britânicos e mais de 650 argentinos mortos.
Fonte : Agência Estado