Quem viaja de ônibus nas rodovias do Rio Grande do Norte convive com o mau estado dos veículos e os riscos de acidentes. Ao todo, a Polícia Rodoviária Federal registrou, de 1º de janeiro até ontem, 346 acidentes envolvendo ônibus que fazem linhas intermunicipais e interestaduais em todo Estado. O número é 11% menor que o registrado em 2010, quando houveram 389 acidentes. Contudo, o número de feridos cresceu, passando de 19 para 21 dos feridos grave e de feridos leves, de 59 para 61 casos.
Adriano AbreuA fiscal do DER, Maria de Fátima de Lima, diz que vistorias em ônibus estão se intensificando. Por semana, uma empresa é acompanhada de perto
Na última semana, um ônibus da empresa Jardinense que fazia a linha de Natal para Caicó pegou fogo na BR-226, a cerca de 10 quilômetros da cidade de Santa Cruz. Passageiros chegaram a pular pelas janelas desesperados. O ônibus queimou totalmente, mas não houve feridos, apenas algumas pessoas ficaram tontas devido à intoxicação por causa da fumaça que saía do veículo. Ainda não se sabe o motivação para o ocorrido. Uma pane elétrica pode ser a provável causa. "O problema dificilmente seria identificado em uma fiscalização de trânsito", explica o inspetor da PRF Olinto José Neto.
Quem precisa embarcar, fala do medo de novos acidentes e insegurança na estrada. Apesar do receio, a dona de casa Ednancy Miranda aguardava o veículo com destino a Jardim do Seridó onde embarcaria os três filhos e a mãe Maria do Socorro Costa, 64 anos. A opção por ônibus se deve a o fato dos alternativos não se respeita o direito à meia entrada para estudantes e idosos.
"Estou com o coração na mão, mas não tem outro jeito. E esses ônibus quando cai, queima", disse a Ednancy Miranda em referência ao acidente ocorrido, em abril, quando um ônibus da empresa, que saiu de Caicó com destino à Natal, transportando 25 pessoas, derrapou no Km 82 da BR-427, e capotou. Dez pessoas ficaram feridas. A dona de casa seguirá hoje para o interior de alternativo. "Mesmo clandestino, é mais seguro em todos os sentidos", disse. No último dia de finados, lembra a mãe Maria do Socorro Costa, o ônibus em que viajava foi alvo de assalto.
No Conjunto Cidade das Rosas, em São Gonçalo do Amarante, a população sofre não só com o número reduzido de veículos como também com o estados dos veículos. "Os ônibus estão sucateados. Quebram todos os dias e quando quebram, o passageiro tem que pagar uma segunda passagem para chegar ao destino, porque não são substituídos em tempo hábil", disse presidente do Conselho Comunitário César Eimar Lima de Menezes.
No terminal de ônibus, um dos veículos que faz a linha Conjuntos Cidade das Rosas, Jardim Petrópolis, Mirassol, havia sido substituído após a quebra e, pouco tempo depois, deixou os passageiros na mão no meio do percurso.
Para reivindicar transporte de qualidade, explica César Eimar Lima de Menezes, os moradores, entraram com uma ação na justiça solicitando maior frequência, pontualidade, direito a integração (pagar apenas uma passagem se pegar mais de um ônibus em 60 minutos) e o retorno do tráfego pela Avenida Bernardo Vieira, das linhas 133 e 176 (Golandin).
Na zona Norte, o ponto mais conhecido como da "Mangueira", próximo ao gancho de Igapó, a ação dos clandestinos permanece. A assistente administrativa Elizângela Soares da Silva, 33 anos, disse que prefere pagar mais caro (R$ 1,50 ao invés do R$ 1,00, cobrado pelos ônibus) para ir em segurança e com maior conforto a Extremoz, onde trabalha. "Os ônibus passam de hora em hora, enquanto lotação tem toda hora é mais prático", disse. A moradora do Amarante é apenas uma dos muitos usuários do transporte coletivo, que tem trocado ônibus sucateados por veículos que atuam na clandestinidade.
Fiscalização é intensificada após incêndio de ônibus
O inspetor Olinto José Neto, da PRF, explica que a fiscalização realizada pelos órgão se restringe ao trânsito, cabendo as vistorias aos órgãos estaduais e municipais (DER e Semob). "Neste período damos uma atenção especial ao transporte de passageiros, que aumenta consideravelmente. Neste caso, são verificados as condições de pneus, faróis, extintor contra incêndio, buzina, cinto de seguranças e documentação exigida. "Não verificamos se o veículo está sucateado, a possibilidade de quebra, essa inspeção cabe ao DER", afirma.
De 1º de janeiro até ontem, a Polícia Rodoviária Federal emitiu 60 autos de infração em rodovias interestaduais, com multas que variam de R$ 1,2 mil a R$ 4 mil. De acordo com o inspetor Olinto José Neto, da PRF, os motivos mais frequentes são a falta de documentação - como o Laudo de Inspeção Técnica (LIT) e o Seguro de Responsabilidade Civil -; além de transporte de bagagens em local indevido, o transporte de mercadorias, que deveria ser feito em transporte de cargas, além do transporte clandestino.
Nos últimos 30 dias a Polícia Rodoviária Federal intensificou a fiscalização nas estradas do Estado e conseguiu reduzir o número de acidentes no período foi reduzido de 132 para 126 e o número de mortos de 10 para 4 em comparação com o mesmo período do ano passado. "Estamos com três operações em andamento, a RodoVida, A Fim de Ano e a Verão. O alvo é combater o excesso de velocidade, ingestão de álcool, ultrapassagem irregular e motocicletas", afirma o inspetor da PRF.
No Terminal Rodoviário de Cidade da Esperança, a fiscalização aos ônibus da empresa jardinense foi intensificada, informou a fiscal do Departamento de Estradas e Rodagens (DER) Maria de Fátima de Lima. "Sempre fazemos, mas esta semana é mais rigorosa com essa empresa e a partir da próxima será ampliada para as demais e até opcionais", disse. Entre os itens verificados estão as condições da bancada, limpeza dos banheiros e itens de segurança, como o extintor contra incêndio, tacógrafo, documentação, faróis e luzes de freios. A TRIBUNA DO NORTE tentou ouvir o diretor superintendente do DER, Demétrio Torres, que disse ter disponibilidade apenas hoje.
Setrans afirma que frota do RN é segura
A frota de ônibus intermunicipal conta com 487 ônibus. O diretor técnico do Setrans/RN, Amâncio Santos Filho, a concorrência com os transportes clandestinos é o fato que mais pesa contra o bom funcionamento da frota intermunicipal no estado. "Para viajar para o interior do Estado, a concorrência é desleal, até pelo preço oferecido pelos clandestinos para as viagens", comentou.
O diretor ainda comentou que a idade média da frota dos ônibus que realizam viagens no RN é de 13 anos. Amâncio acredita que a idade não é a ideal, porém descarta que os ônibus sejam inseguros. "A frota que se tem hoje é muito segura, apesar de não ser nova", disse. O diretor afirma que em períodos de grande movimentação nas rodoviárias, as empresas costumam colocar todos os ônibus da frota em funcionamento.
Amâncio Santos criticou também a falta de políticas para os transportes do Rio Grande do Norte, assim como garantias por parte do Governo do Estado como forma de evitar a concorrência dos clandestinos. O diretor cobra uma fiscalização mais efetiva nas estradas do interior do Estado.