Pequena Finlândia reproduz vila típica: é gostoso passear no minishopping e entrar em cada uma de suas 28 lojas montadas em casinhas que parecem de brinquedo |
Visionário, místico ou simplesmente doidão mesmo foi um tal de Toivo Uuskallio, um finlandês, radicalmente naturalista, que em 1927 resolveu largar o clima hostil de seu país — onde a luz solar é uma raridade — a fim de se mudar para o Brasil. No livro Na viagem em direção à magia do trópico, lançado anos depois, ele conta ter recebido um chamado para deixar sua terra natal e emigrar para o sul. Diz que a mensagem chegou de forma misteriosa, prometendo o paraíso. Embarcaram para o Brasil o finlandês Toivo, e a mulher dele, Liisa, acompanhados de três rapazes, todos contaminados pelo sonho. Era a ponta de lança de uma colônia que viria a se consolidar entre 1929 e 1950, quando cerca de 300 finlandeses atravessaram o Mar do Norte e o Atlântico e se mudaram para o Brasil em busca de esperança e calor.
Muitos imigrantes vieram para a Fazenda Penedo, uma espécie de cooperativa de trabalho, ideia de Toivo, também chamado de agricultor filósofo. A propriedade estava localizada no Vale do Paraíba, então distrito da cidade de Resende, interior do Rio de Janeiro, próximo da divisa com Minas Gerais e São Paulo. As dificuldades iniciais não foram poucas, e muitos também foram aqueles que desistiram e procuraram outras paragens.
Tropical
Foi na década de 1950 que os imigrantes finlandeses, então desencantados com a agricultura, começaram a descobrir o turismo. Num lugar rodeado por montanhas, vales, muito verde da mata atlântica, água e belas paisagens, eles começaram a receber visitantes, principalmente vindos da cidade do Rio de Janeiro. Com a inauguração da Via Dutra, começaram a aparecer também os paulistas. As diferenças culturais, a gastronomia e a história desse povo nórdico que sonhou com o paraíso tropical sustentavam um forte apelo, calcado também na arquitetura singular de suas casas e prédios. A Chácara das Duas foi a pioneira em atividades de hospedagem e carrega uma bela história (leia mais nesta página).
Os atrativos foram incorporando outros até a região se tornar um polo turístico, com centenas de pousadas e hotéis — alguns de altíssimo nível, assim como os restaurantes, que têm seu forte na cozinha internacional refinada. Some o cenário natural privilegiado, o friozinho (ou friozão) reinante e a forte tradição do jazz. Tudo isso faz de Penedo — atualmente, distrito de Itatiaia (RJ) — um grande programa em qualquer época do ano, não importa o dia da semana. O lugar é também ponto de passagem para os distritos místicos de Visconde de Mauá, Maringá e Maromba, pontos de referência para a cultura hippie entre as décadas de 1960 e 1970. Os turistas que vão para Mauá, por exemplo, não precisam mais enfrentar 25km de estrada de terra, já que o asfalto foi inaugurado este mês.
Outros povos fizeram a história de Penedo, ao lado dos brasileiros. Mas os finlandeses definitivamente deixaram as marcas mais fortes. Uma delas é a atmosfera permanente de Natal, traduzida na Casa do Papai Noel, que funciona o ano inteiro, sempre com o Bom Velhinho de plantão. Ela fica dentro de uma das principais atrações comerciais de Penedo, que é a Pequena Finlândia, um minishopping com 28 lojas, construído para ser uma réplica fiel de um vilarejo nórdico. A Casa do Papai Noel foi construída nos mesmos moldes da original europeia, que fica, adivinhe, na Finlândia.
Sangue, suor e lágrimas
A imigrante Eva Hildén reproduziu em seu livro A saga de Penedo um trecho de uma carta escrita por Tovo Uuskallio, em 1934. O texto mostra o quão difícil foi realizar o sonho de se estabelecer nos trópicos: “Tivemos contratempos econômicos tão grandes que muitos desistiram de tudo. Imigração é uma experiência penosa. Podemos alegrar-nos porque Penedo ainda está indo firme e uma parte dos pioneiros continua enfrentando as provações com confiança no sucesso. Eles gostam de Penedo e querem ficar aqui…”.
Fonte: Alfredo Durães