Comunidades terapêuticas podem receber recursos públicos para tratamentosJoão*, que deve sair no início de janeiro, afirma que a espiritualidade é essencial para o sucesso do tratament
Para João*, a virada do ano será mais que o recomeço simbólico, quando as pessoas costumam revisar o passado e planejar o futuro. Exatamente no primeiro dia de 2012, o homem de 52 anos voltará à convivência familiar, depois de nove meses internado para se livrar do alcoolismo. Ao lado dele, Pedro* também festeja a evolução do tratamento. Ex-usuário de drogas, tendo experimentado por último o crack, o jovem de 30 anos começará a visitar a mulher e as filhas em saídas agendadas, como parte da etapa final do programa de recuperação. Tanto João quanto Pedro buscaram ajuda na Fazenda do Senhor Jesus, instituição católica sem fins lucrativos que atende dependentes químicos desde 1987. Com duas unidades, uma masculina e outra feminina, totalizando 45 vagas, a comunidade terapêutica é reconhecida pela importância do serviço prestado no Distrito Federal. Entidades semelhantes estão espalhadas pelo Brasil e poderão receber, já no próximo ano, recursos do governo federal, por determinação da presidente Dilma Rousseff.
Andréa Azevedo, vice-presidente da Sociedade de Empenho na Recuperação de Vidas através da Oração e Serviço (Servos), mantenedora da Fazenda do Senhor Jesus, atribui as críticas elencadas em relatório recente do Conselho Federal de Psicologia contra comunidades terapêuticas ao anúncio feito por Dilma. “Fazemos nosso trabalho há 25 anos e ninguém nunca falou nada. Bastou a presidente dizer que vai colaborar com as comunidades e as críticas começaram. É tudo uma questão econômica, financeira e política”, diz. Segundo ela, são mentirosas as informações de que os internos da Fazenda do Senhor Jesus ficam privados de liberdade ou que têm explorada a força de trabalho. “Nosso programa é baseado em um tripé: oração, disciplina e trabalho. Então, em esquema de escala, cada um cuida de uma área, que pode ser a cozinha, a horta, os animais. Mas nunca vendemos nada que eles produzem aqui. E não há portões ou grades. Quando alguém quer ir embora, conversamos, pedimos 48 horas para pensar melhor. Se a pessoa decide desistir, assina um termo e vai”, explica Andréa.
Voluntário
Pedro passou por um momento de dúvida. “No terceiro mês, eu quase saí. Mas aí pensei melhor no que eu queria para minha vida, lembrei da minha família e resolvi ficar”, diz. Agora, mais tranquilo, ele planeja se tornar um voluntário. “Não vou dizer que é fácil, mas a gente recebe apoio aqui. Quando eu terminar, quero continuar vindo nas visitas”, afirma o rapaz. Nas unidades, os internos têm atendimento médico uma vez por semana, grupos de terapia com psicólogos, além de atividades de reflexão. Uma capela com imagens de São Francisco de Assis é um dos locais preferidos de João. Pela segunda vez na Fazenda do Senhor Jesus, ele destaca que a aproximação com Deus é o que lhe dá mais forças para lutar contra o álcool. “A espiritualidade, acho que foi essa a parte que não aproveitei bem na minha primeira passagem. Pelo tratamento dispensado, eu quis voltar depois que recaí. E dia 1º de janeiro estarei saindo para uma nova vida.”
Antes de entrar na Fazenda do Senhor Jesus, os internos passam por um triagem rigorosa, que inclui entrevistas e exames médicos. Todas as quartas-feiras, a equipe que inicia o processo está na Igreja Santa Cruz, na 905 Sul. “É importante fazer essa avaliação prévia para que a pessoa tenha certeza do que quer e, dessa forma, até diminuir a rotatividade na instituição”, diz Léia Gonçalves Dias, presidente da Servos. Seis monitores e um coordenador, cerca de 105 voluntários, parceria com empresas, doações feitas pela população e eventos beneficentes mantêm a Fazenda do Senhor Jesus em funcionamento. Os internos e familiares contribuem com o que podem. Não há valor fixo. As unidades são limpas e bem cuidadas. Visitas ocorrem uma vez por mês. Mas os internos são estimulados a escrever para os parentes, que também recebem atendimento do lado de fora por meio dos grupos de apoio. “Muitas vezes, o familiar está tão ou mais adoecido que o dependente”, ressalta Paulo Cunha, presidente do Conselho Deliberativo da Servos.
* Nomes fictícios para preservar a identidade dos entrevistados.
Troca de experiências
Três casais que haviam buscado tratamento para os filhos em comunidades terapêuticas de Goiânia decidiram, em 1986, formar grupos com a mesma metodologia vista na capital goiana e ainda pouco difundida no Distrito Federal. Um ano depois, conseguiram fundar a primeira Fazenda do Senhor Jesus aqui. Para isso, foram a Campinas buscar informações com o padre Haroldo, que criou uma das comunidades terapêuticas mais respeitadas do país. Até hoje, contato com as equipes do interior de São Paulo é mantido para capacitação e troca de experiências. Gilda Carriconde Azevedo é uma das fundadoras que continua se dedicando ao projeto. A unidade masculina fica no Recanto das Emas e a feminina, em Brazlândia.
Andréa Azevedo, vice-presidente da Sociedade de Empenho na Recuperação de Vidas através da Oração e Serviço (Servos), mantenedora da Fazenda do Senhor Jesus, atribui as críticas elencadas em relatório recente do Conselho Federal de Psicologia contra comunidades terapêuticas ao anúncio feito por Dilma. “Fazemos nosso trabalho há 25 anos e ninguém nunca falou nada. Bastou a presidente dizer que vai colaborar com as comunidades e as críticas começaram. É tudo uma questão econômica, financeira e política”, diz. Segundo ela, são mentirosas as informações de que os internos da Fazenda do Senhor Jesus ficam privados de liberdade ou que têm explorada a força de trabalho. “Nosso programa é baseado em um tripé: oração, disciplina e trabalho. Então, em esquema de escala, cada um cuida de uma área, que pode ser a cozinha, a horta, os animais. Mas nunca vendemos nada que eles produzem aqui. E não há portões ou grades. Quando alguém quer ir embora, conversamos, pedimos 48 horas para pensar melhor. Se a pessoa decide desistir, assina um termo e vai”, explica Andréa.
Voluntário
Pedro passou por um momento de dúvida. “No terceiro mês, eu quase saí. Mas aí pensei melhor no que eu queria para minha vida, lembrei da minha família e resolvi ficar”, diz. Agora, mais tranquilo, ele planeja se tornar um voluntário. “Não vou dizer que é fácil, mas a gente recebe apoio aqui. Quando eu terminar, quero continuar vindo nas visitas”, afirma o rapaz. Nas unidades, os internos têm atendimento médico uma vez por semana, grupos de terapia com psicólogos, além de atividades de reflexão. Uma capela com imagens de São Francisco de Assis é um dos locais preferidos de João. Pela segunda vez na Fazenda do Senhor Jesus, ele destaca que a aproximação com Deus é o que lhe dá mais forças para lutar contra o álcool. “A espiritualidade, acho que foi essa a parte que não aproveitei bem na minha primeira passagem. Pelo tratamento dispensado, eu quis voltar depois que recaí. E dia 1º de janeiro estarei saindo para uma nova vida.”
Antes de entrar na Fazenda do Senhor Jesus, os internos passam por um triagem rigorosa, que inclui entrevistas e exames médicos. Todas as quartas-feiras, a equipe que inicia o processo está na Igreja Santa Cruz, na 905 Sul. “É importante fazer essa avaliação prévia para que a pessoa tenha certeza do que quer e, dessa forma, até diminuir a rotatividade na instituição”, diz Léia Gonçalves Dias, presidente da Servos. Seis monitores e um coordenador, cerca de 105 voluntários, parceria com empresas, doações feitas pela população e eventos beneficentes mantêm a Fazenda do Senhor Jesus em funcionamento. Os internos e familiares contribuem com o que podem. Não há valor fixo. As unidades são limpas e bem cuidadas. Visitas ocorrem uma vez por mês. Mas os internos são estimulados a escrever para os parentes, que também recebem atendimento do lado de fora por meio dos grupos de apoio. “Muitas vezes, o familiar está tão ou mais adoecido que o dependente”, ressalta Paulo Cunha, presidente do Conselho Deliberativo da Servos.
* Nomes fictícios para preservar a identidade dos entrevistados.
Troca de experiências
Três casais que haviam buscado tratamento para os filhos em comunidades terapêuticas de Goiânia decidiram, em 1986, formar grupos com a mesma metodologia vista na capital goiana e ainda pouco difundida no Distrito Federal. Um ano depois, conseguiram fundar a primeira Fazenda do Senhor Jesus aqui. Para isso, foram a Campinas buscar informações com o padre Haroldo, que criou uma das comunidades terapêuticas mais respeitadas do país. Até hoje, contato com as equipes do interior de São Paulo é mantido para capacitação e troca de experiências. Gilda Carriconde Azevedo é uma das fundadoras que continua se dedicando ao projeto. A unidade masculina fica no Recanto das Emas e a feminina, em Brazlândia.
Fonte:Renata Mariz