Collor teve os direitos políticos suspensos após o impeachment em 1992, mas conseguiu voltar ao Senado nas eleições de 2006
A posse de Jader Barbalho ontem é mais um capítulo da novela em que caciques ressurgem após terem sido forçados a se afastar da política. Figuram nessa lista o ex-presidente Fernando Collor de Mello e o ex-senador Luiz Estevão. Collor, o primeiro a retornar à vida pública, se elegeu presidente em 1989, logo após o processo de redemocratização, e acabou afastado do cargo em 1992.
Durante o mandato, o ex-presidente protagonizou fatos polêmicos, como o Plano Collor, que confiscou as contas bancárias, e denúncias que vieram do próprio irmão de irregularidades cometidas pelo tesoureiro da sua campanha, Paulo César Farias. Ele chegou a renunciar, mas acabou sofrendo o impeachment em dezembro de 1992. Collor ficou inelegível por oito anos e retornou à política em 2006, como senador por Alagoas. O ex-presidente entrou na disputa 28 dias antes do pleito, com menos de um minuto na propaganda eleitoral na televisão, e terminou eleito com 44% dos votos válidos. Em 2010, tentou ocupar a cadeira de governador do estado, mas não chegou ao segundo turno. Hoje, chefia a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado e polemizou a votação da Lei de Acesso à Informação e da Comissão da Verdade este ano.
Luiz Estevão, outro que prepara seu retorno, é o único parlamentar cassado na história do Senado. Em junho de 2000, os colegas decidiram pelo afastamento em razão de envolvimento no desvio de R$ 169 milhões da obra do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. Segundo investigações do Ministério Público, a Incal, empresa que tocava a obra, repassava o dinheiro para o Grupo OK, que pertencia ao ex-senador. Além de perder o mandato e os direitos políticos, Estevão foi condenado a 31 anos de prisão por peculato, estelionato, corrupção ativa, falsidade ideológica e corrupção ativa. No período em que esteve fora dos holofotes, Luiz Estevão seguiu comandando o Brasiliense, mas nunca deixou o PMDB. Nas eleições em 2010, participou da campanha de Joaquim Roriz (PSC-DF) e de Weslian Roriz (PSC-DF) ao governo, pensando em conquistar uma cadeira em alguma secretaria.
Apesar de a família Roriz não ter conquistado o Buriti, Luiz Estevão continua de olho na parceria, com intuito de obter apoio para 2014, para uma vaga na Câmara dos Deputados, Senado ou até no Palácio do Buriti. Luiz Estevão nega a intenção de se candidatar nas próximas eleições para cargos majoritários. “Posso afiançar que não há a menor possibilidade de alguém me ver candidato em 2014”, garantiu. Segundo ele, sua prioridade agora é provar a inocência no caso do TRT de São Paulo e resolver a dívida, resultante do desvio de recursos. Nas contas de Estevão, o débito é de R$ 465 milhões, cujo valor a Advocacia-Geral da União contesta: seria de R$ 923 milhões.
Estevão afirma ainda que, mesmo depois de resolvida a situação, não há planos para que volte à vida pública. “Não sei nem se depois de resolver isso. As coisas não se colocam nesses termos. Nem cogito a possibilidade”, disse. O ex-parlamentar também nega que sua participação na campanha de Joaquim Roriz em 2010 tenha tido motivação política. “Tenho uma relação pessoal com Roriz desde 1968. Algumas vezes, ele chamou e eu fui conversar com ele, mas minha participação na campanha foi muito pequena”, despista. O fato de seguir filiado ao PMDB, segundo ele, também “não significa nada”. “Nem todo filiado no partido se candidata”, argumenta.
O próprio Roriz é outro que avalia um retorno. O ex-governador do Distrito Federal passou perto de ser enquadrado pela Lei da Ficha Limpa porque renunciou ao mandato no Senado para escapar de um processo de investigação por quebra de decoro parlamentar.
Fonte: Juliana Braga - a Alana Rizzo